Ana Mendonça
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EM MINAS

PT dividido pela disputa do comando

A escolha do novo presidente do partido em Minas ultraa as fronteiras do estado. No alto escalão petista, o processo é tratado como prioridade nacional

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“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares”, escreveu Fernando Teixeira de Andrade. O PT de Minas parece viver exatamente esse tempo de troca de vestes e do espelho que já não reconhece o próprio reflexo. Ainda que os tecidos do partido carreguem remendos visíveis é na eleição do novo diretório estadual, marcada para 6 de julho, que se costura ou se rasga o pano de fundo da esquerda rumo a 2026.


Após dois mandatos à frente do PT Minas, o deputado estadual Cristiano Silveira pendurou a faixa vermelha e desistiu da reeleição. Em seu lugar, indicou a deputada federal Dandara Tonantzin, jovem liderança do Triângulo Mineiro, militante negra, forjada nos movimentos sociais e na resistência da periferia.


Dandara surge como a candidata da renovação estética e simbólica. Porém, carrega consigo um dos grupos mais tradicionalistas do PT mineiro, liderado pelo deputado federal Reginaldo Lopes, cacique da legenda.


Além de Cristiano e Reginaldo, Dandara ainda conta com a prefeita de Contagem, Marília Campos, formando assim o tripé de apoio principal à candidatura. No campo nacional, ela também está alinhada a Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e favorito de Lula para a presidência nacional do partido.


Fontes ouvidas pela coluna são categóricas: Dandara é uma das favoritas. Mas, como diria Guimarães Rosa, “o que a vida quer da gente é coragem” e coragem não falta para abrir uma disputa interna, mesmo quando a conta parece fechada.


Para o lamento de Reginaldo Lopes, o segundo turno parece uma possibilidade. E uma segunda votação é, por natureza, terra de incertezas. O que hoje parece arrumado pode se desfazer em um fim de semana de costuras. Como é dito nos bastidores, no PT ninguém esquece, apenas espera o momento certo para lembrar.


A principal adversária de Dandara é a deputada estadual Leninha, vice-presidente da Assembleia Legislativa (ALMG). Sua candidatura é o reflexo do racha na corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária dentro do partido. Leninha tem ao seu lado nomes históricos e simbólicos: o ex-prefeito Patrus Ananias, os deputados Rogério Correia, Beatriz Cerqueira, Leleco Pimentel e o apoio da tesoureira nacional, Gleide Andrade. A CNB, que antes era uma casa só, hoje parece um condomínio com vários apartamentos e pouca comunicação entre vizinhos.


A briga começou na eleição municipal de 2024. Correia, que foi candidato à Prefeitura de Belo Horizonte, acusou publicamente Reginaldo de tê-lo traído no primeiro turno, apoiando Fuad Noman (PSD) pelas costas. “O Reginaldo me traiu. Está de namoro com o PSD”, disse na época. Lopes rebateu com uma alfinetada: “Rogério não aprendeu nada com as urnas e continua autoritário”. No segundo turno, Correia precisou engolir o orgulho e apoiou Fuad. Mas a ferida continua e nela se escondem votos cruciais para o rumo do partido.


Do outro lado do ringue, Ricardo Campos, deputado do Norte de Minas, também entrou na luta. E entrou com farpa. Disse que o atual comando do partido falhou ao não fortalecer as lideranças locais e prometeu “respeito a quem constrói o PT de verdade no interior”.


Campos já foi secretário de Juventude e de Organização do partido. Conta com apoio do ex-deputado Virgílio Guimarães, do federal Paulo Guedes, da ex-prefeita de Ipatinga Cecília Ferramenta e de nomes como Romênio Pereira e Pedro Rousseff. Defende abertamente uma aliança com Rodrigo Pacheco ao governo de Minas em 2026.


Além deles, correm por fora Juanito Vieira, de Juiz de Fora, e Esdras Queiroz, liderança do Triângulo. Pouco conhecidos fora de seus redutos, mas com discurso afinado com a base militante.


Fato é que a escolha do novo presidente do partido em Minas ultraa as fronteiras do estado. No alto escalão petista, o processo é tratado como prioridade nacional, segundo fontes ouvidas pela coluna.


Minas é o estado-pêndulo por excelência, aquele que inclina a balança nas disputas presidenciais. A performance recente reforça a atenção: em 2024, o PT avançou no Sudeste, elegendo 41 prefeitos contra 33 em 2020 – sendo 35 deles justamente em Minas. É no estado que o partido planta seu enraizamento e tenta colher unidade.


No fim das contas, Minas ainda não sabe quem será o próximo presidente do partido, mas sabe que a disputa será intensa, simbólica e decisiva. Como disse Lula: “Quando a gente não briga pelo que quer, aceita o que vier”.

 

 


Na estrada

A tesoureira nacional do PT, Gleide Andrade, já tirou a pré-candidatura do campo da especulação. Confirmada como nome do partido para a disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados por Minas Gerais, ela tem intensificado as viagens pelo interior do estado e aparecido nas redes sociais como aposta da legenda para Brasília. A movimentação acelera a montagem da chapa petista e reforça o palanque mineiro de Lula para 2026.

 

 

Adeus, BH

Quem também já botou o pé na estrada é o vereador Pedro Rousseff (PT), que parece ter deixado a Câmara Municipal de Belo Horizonte em segundo plano. Nas últimas semanas, quase não é visto na capital – está sempre no interior de Minas em ritmo de pré-campanha, costurando apoios para disputar uma vaga de deputado federal em 2026. A movimentação reforça a disputa interna no PT por espaço e visibilidade rumo à próxima eleição.

 

 

Família apoia

O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), entrou no xadrez mineiro e declarou apoio ao deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) na corrida pelo Senado. Como revelou a coluna “EM Minas” no último sábado, a disputa interna do PL pela vaga tem inflamado os bastidores. Nas redes sociais, Eduardo justificou a escolha: “Caporezzo tem meu apoio ao Senado. Já provou honestidade, fidelidade e inteligência”.

 

 

De olho no Brasil

Os discursos da deputada estadual Amanda Teixeira Dias (PL) têm causado burburinho nos corredores da Assembleia. Em vez de tratar de temas ligados a Minas, Amanda tem apostado em pautas de repercussão nacional, estratégia que, nos bastidores, é lida como parte de um projeto de nacionalização de sua imagem. A deputada quer se firmar como uma das líderes do PL no país. Prova disso é sua recente aparição no horário eleitoral gratuito da legenda em Minas, apresentada como uma das vozes de destaque do partido. O detalhe curioso? Amanda era suplente e só assumiu de fato uma cadeira na
ALMG neste ano.

 

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Por um país melhor

O dia de Santa Rita de Cássia, celebrado em 22 de maio, movimentou fiéis na capela dedicada à santa na Igreja de São Pedro, em Belo Horizonte. O que chama atenção por lá, no entanto, não é só a devoção. Conhecido na comunidade, o padre Toninho tem chamado mais atenção pelos discursos bolsonaristas no púlpito do que pelas homilias tradicionais. Já celebrou missas com a bandeira do Brasil ao lado da imagem da santa e costuma incluir orações por “um país melhor” e pela “melhora do Estado”.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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