
Má influência, o lado sombrio dos influencers infantis
Por essas e outras eu deixei de seguir todos os influenciadores que expõem suas crianças, mesmo que de forma aparentemente inocente
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"Má influência: o lado sombrio dos influencers infantis", é uma série documental que explora o impacto das redes sociais na vida das crianças, de muitos pais e educadores, preocupados com o bem-estar dos jovens. A história gira em torno de uma mãe que transforma a filha em influencer mirim nos Estados Unidos. A mãe solo vê na filha uma possibilidade de gerar renda e, além de explorar a menina, explora outras crianças, fazendo-as trabalhar diária e exaustivamente produzindo conteúdo para o YouTube. Quanto mais ela monetiza, mais ela explora. O céu é o limite ou talvez o inferno. Vou dar alguns spoilers, mas só para dar vontade de assistir.
Más influências sobram nas redes, muitas vezes disfarçadas de fofurice, amor parental, brincadeiras de criança. O que vemos ali é o recorte que a pessoa que produz conteúdo quer mostrar, mas a questão é o que está por trás de tudo isso. Esse bonito por fora e feio por dentro é o que a série mostra, com depoimentos dos adolescentes que faziam parte do grupo e de suas mães. Uma filha explorada e hiperssexualizada que, ainda criança, recebia montanhas de presentes de homens adultos. Homens que pediam em troca fotos e até calcinhas usadas da criança. Essas trocas eram realizadas porque rendiam dinheiro e mais engajamento com o conteúdo produzido, e, consequentemente, mais dinheiro. É assim que a roda gira.
Essa menina nunca frequentou a escola e, depois que as mães dos colegas de trabalho entraram com uma ação contra a mãe e mentora no negócio de exploração do trabalho infantil, e o perfil dela foi desmonetizado no YouTube e ela ou a produzir conteúdo adulto em uma plataforma similar ao Only Fans.
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Adolescentes a partir de 13 anos podem ar para produzir contendo, porém, quem pode consumir esse conteúdo são apenas os maiores de 18 anos. Entrei no perfil do Instagram dela e fiquei chocada não só com a hiperssexualização, mas também com a quantidade de seguidores, em sua maioria homens, além de meninas que a veem como exemplo, afinal, ela é uma influenciadora e vai influenciar meninas a produzirem o mesmo tipo de conteúdo que vai ser consumido pelo mesmo público.
Essas meninas ingênuas que se espelham nos influenciadores, em breve, serão vítimas de pedófilos que ficam de olho em tudo, que adoram seguir perfis de mães, porque elas postam fotos e vídeos de suas crianças sem ter ideia de onde esse material vai parar. E ele vai parar em fóruns de pedófilos do mundo todo. Assistam à série para entender a gravidade da questão.
Aqui no Brasil não faltam criadores de conteúdo que expõem seus filhos. Não há dúvidas de que eles tenham um lado narcisista, porque mostrar o filho é como mostrar uma extensão de si mesm. Acontece que as crianças não sabem como suas imagens estão sendo apresentadas, nem têm idade para entender e consentir sobre a própria exposição nas redes. Outra questão séria é que há pais e mães que vendem esse conteúdo, que enviam fotos e vídeos das crianças em troca de dinheiro, que fazem disso um modo de vida.
Há alguns meses um pai, que era influenciador e vivia postando vídeos mostrando sua conexão com as filhas, foi preso preventivamente por estupro de vulnerável. Quem vê o conteúdo dele acha que é um paizão, porque essas pessoas sabem enganar o público, e a gente cai mesmo. Por essas e outras eu deixei de seguir todos os influenciadores que expõem suas crianças, mesmo que de forma aparentemente inocente. Vendo a série “Má influência” tive mais certeza de que é necessário ter essa postura enquanto não há uma legislação que preveja a proibição de exposição de crianças e o trabalho infantil nas redes sociais. Lembrando que fora da internet, menores de 14 anos não podem trabalhar, salvo casos específicos com autorização judicial.
Essa série nos ajuda a repensar as redes sociais e a importância da regulamentação das plataformas. Não é possível deixar a decisão para os pais, porque muitos não têm bom senso, não têm ética. São os pais que devem sustentar os filhos e não o contrário.
Um exemplo emblemático de pais que cometeram abusos na gestão do patrimônio de crianças é o caso da atriz Larissa Manoela. Caso que ficou conhecido após Larissa descobrir que, apesar de ter acumulado um patrimônio milionário com sua carreira, tinha pouca participação nos negócios, enquanto seus pais controlavam a maior parte. Para evitar um processo, Larissa Manoela abriu mão de cerca de R$ 8 milhões em favor dos pais.
E tem criança que ainda nem veio ao mundo: ainda é um feto na barriga da mãe e já tem perfil no instagram e em outras redes sociais! É assustador como é possível monetizar uma criança que ainda nem nasceu. Quem você segue? Qual tipo de conteúdo você consome? Tem crianças envolvidas? Cada seguidor impulsiona essas pessoas a querer mais, a explorar mais, não há limites. Como disse Pepe Mujica “Pessoas pobres são aquelas que sempre precisam de mais, aquelas que nunca têm o suficiente, porque estão num círculo infinito.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.