Ouro Preto – Tarde e noite magistrais, movidas pela emoção e plenas de harmonia, para dar início, na terra natal, às comemorações dos 25 anos da Orquestra Ouro Preto, tesouro artístico de Minas que conquista plateias mundo afora. Na segunda-feira (17/3), no Teatro Municipal Casa da Ópera, o maestro Rodrigo Toffolo, regente titular e diretor artístico do grupo, resumiu a trajetória numa frase: “Excelência e versatilidade caminham juntas”. E anunciou os próximos os, que incluem a ópera baseada no livro “Feliz ano velho”, de Marcelo Rubens Paiva.

Escritor e dramaturgo paulistano, Paiva é autor de “Ainda estou aqui”, que deu origem ao longa homônimo dirigido por Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional no último dia 2.

Na noite de segunda-feira, ao final da apresentação da Orquestra Ouro Preto (OOP), entremeada por histórias contadas por Toffolo, Marcelo Rubens Paiva deu o ar da graça num vídeo, falando sobre o espetáculo que estreia em 14 de junho “nas areias da Praia de Copacabana”, no Rio de Janeiro (RJ).

'Muito antes do filme'

Em Belo Horizonte, serão duas apresentações da nova ópera, marcadas para agosto, no Palácio das Artes. Música e libreto são assinados por Tim Rescala.

“O desejo de transformar ‘Feliz ano velho’ em ópera nasceu há mais de um ano – portanto muito antes do filme ‘Ainda estou aqui’. Nosso trabalho, além da busca de excelência e versatilidade, é cercado pela forte presença do cuidado e sempre de um novo olhar para a música”, disse o maestro Toffolo.

A ópera terá uma “valsa de cadeiras de rodas” – referência a Marcelo, que, aos 20 anos, ficou tetraplégico ao pular no lago de um sítio, em 1979. Toffolo afirmou que o espetáculo não é novidade para a orquestra, pois o grupo já levou para os palcos a versão lírica de “Hilda Furacão”, romance do mineiro Roberto Drummond (1933-2002).

Rufo Herrera toca bandoneón no concerto em Ouro Preto. Ele criou a OOP com o pianista Ronaldo Toffolo, pai do maestro Rodrigo Toffolo

Rapha Garcia/divulgação

Álbum e concertos

Mais novidades estão a caminho, anunciou o regente. Na próxima sexta-feira (21/3), será lançado o 22º álbum da OOP, “Orquestra Ouro Preto: Villa-Lobos, Piazzolla e Mehmari”. Estão lá “Bachiana brasileira nº 9”, de Villa-Lobos; “Suíte del ángel”, de Astor Piazzolla, com arranjos inéditos de José Carli, parceiro do compositor argentino falecido em 1992; e “Canções para as estações”, de André Mehmari, compositor e pianista.

Toffolo explicou que se trata de “criação inédita inspirada nos sonetos atribuídos a Vivaldi em ‘As quatro estações’, trazendo abordagem inovadora e emocionante com a voz luxuosa da soprano Marília Vargas”. O álbum estará disponível nas plataformas digitais. Na agenda de aniversário, há concertos no Rio Grande do Norte, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Amazonas.

No próximo fim desta semana, as comemorações seguem com a temporada do projeto Domingos Clássicos, fruto de 10 anos de parceria com o Sesc Palladium, em BH, onde a OOP é residente. O primeiro concerto, no domingo (23/11), às 11h, homenageará o compositor e bandoneonista Rufo Herrera, de 92 anos, com participação do Quinteto Tempos. Ingressos estão à venda na plataforma Sympla e na bilheteria do teatro.

Na segunda-feira, o Herrera tocou “El choclo” e “La cumparsita” e se tornou responsável por um dos momentos mais importantes da noite no Teatro da Ópera. Cofundador, em 2000, da Orquestra Ouro Preto ao lado de Ronaldo Toffolo, pai de Rodrigo, Herrera teve papel fundamental na construção da identidade do grupo.

Dona Marilia Toffolo montou mesa de quitutes para festejar os 25 anos da OOP

Rapha Garcia/Divulgação

Quitandas e histórias

A arte dominou a acolhida da família Toffolo aos jornalistas convidados para a comemoração dos 25 anos da OOP. À tarde, em sua casa, o casal Ronaldo e Marília deu um show de hospitalidade em torno da mesa de quitandas típicas e doces caseiros, ao som de muitas histórias contadas pelos pais do maestro Rodrigo, de Rodolfo (spalla), das gêmeas Mara e Marília (violinistas) e de Ronaldo (gerente financeira da OOP).

No segundo andar da residência, no Centro Histórico, seu Ronaldo, pianista, mostrou o local onde a orquestra nasceu. Ali há instrumentos, coleção de discos, livros, quadros.

“Às vezes, de manhã cedo, eu acordava com meu pai ao piano. Naquele inverno da Ouro Preto da minha infância, eu saía das cobertas e perguntava que música era aquela”, relembrou Rodrigo Toffolo.

Diante da pergunta sobre o que esse tempo significou para ele, o maestro da OOP não tem dúvidas: “Foram 25 anos de desafios e surpresas constantes. Nunca nos acomodamos. Com um grupo formado de início por irmãos e amigos, não imaginávamos chegar tão longe, mas sempre acreditamos na força da música e no poder dos grandes encontros.”


(*) O repórter viajou a convite da Orquestra Ouro Preto

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