Instituto Inhotim reformula e rebatiza a galeria Claudia Andujar
Pavilhão a a se chamar Claudia Andujar Maxita Yano e recebe 90 trabalhos produzidos por 22 artistas e coletivos indígenas, ao lado das obras da fotógrafa
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Siga noNa abertura do pavilhão de Claudia Andujar no Inhotim, em 2015, o espaço construído com tijolos artesanais de terra recebeu dos Yanomami que ali estavam para prestigiar o trabalho da fotógrafa dedicada à causa indigena o nome de Maxita Yano (“casa da terra”, em português).
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Dez anos depois, um novo capítulo dessa história é aberto, com a galeria rebatizada como Claudia Andujar Maxita Yano e o acréscimo do trabalho de outros 22 artistas ao acervo do Inhotim, que conta com mais de 500 obras de Claudia Andujar.
Hoje, 205 obras da artista estão expostas ao público do Instituto de Arte Contemporânea. A elas foram incorporados 90 trabalhos do grupo de artistas convidados, vindos de seis estados do Brasil, além da Bolívia, Colômbia, Peru e Paraguai.
"É um acervo fundamental para que, em 2025, não seja mais possível considerar a cultura de nosso tempo sem que necessariamente tenhamos artistas indígenas representando a si próprios e manifestando aquilo que há séculos é objeto de sua luta: o direito à existência, o direito à terra e a luta pela manutenção de seus saberes e pela coexistência de seus distintos modos de vida", afirma Júlia Rebouças, diretora artística do Inhotim.
Quando a galeria foi inaugurada, galerias e museus costumam classificar a produção dos povos indígenas como “artefatos”. “As instituições não podem se afastar de um debate que é iminente. Os profissionais da arte que não estão atentos a isso não estão dialogando com o pensamento do mundo atual”, afirma a curadora da exposição, Beatriz Lemos.
Diálogo
A estrutura da galeria Claudia Andujar Maxita Yano permanece a mesma, mas a disposição das obras foi toda reformulada. Cada sala expõe obras de Claudia em diálogo com novos artistas, cujos trabalhos são sinalizados com uma borda cinza.
As imagens foram dispostas a partir de temas em comum. Na primeira sala, trabalhos do início da carreira de Andujar mostram seu primeiro contato com a Amazônia, a trabalho como fotojornalista para a revista “Realidade”. Esses registros dialogam com as fotoperformances de Uyra, artista que explora a relação entre corpo e floresta.
Em outra sala, Claudia Andujar registra o Reahu, rito funerário dos Yanomami. Logo ao lado, Julieth Morales apresenta um rito de agem das meninas para a vida adulta em uma videoperformance, na qual ela desfaz bolsas como forma de repensar a tradição ao longo do tempo.
Próximo a este trabalho estão as obras de Edgar Xakriabá. Representante mineiro da mostra, o fotógrafo registra manifestações políticas indígenas. Um de seus trabalhos exibidos em Inhotim é a série “Aikute: A certeza da herança que vamos deixar para os nossos filhos é a luta”.
"Para mim, não dá para falar sobre fotografia sem falar do lugar de onde a gente vem. Minhas obras não estão separadas desse tema, que é a luta pelo território. As obras que estão aqui narram a história do povo Xakriabá e mostram como enfrentamos o Estado brasileiro", afirma o artista. "Gosto de dizer que a câmera é como o nosso novo arco, e a imagem, a flecha. Ou seja, ela é um instrumento de luta e resistência para nós."
O núcleo de retratos da mostra traz uma das quatro obras comissionadas da exposição. Produzida por Paulo Desana, a série “Os espíritos da floresta” investiga grafismos indígenas e pinturas corporais de povos Pataxó. Ao lado, obras de Andujar que ainda não haviam sido expostas no Inhotim.
A presença indígena nas cidades também é retratada. Entre outras temáticas abordadas, estão transformações do meio ambiente, importância do território e sutilezas da vida cotidiana. A exposição inclui textos que contextualizam o diálogo, mas sem dividi-lo em capítulos fechados. Segundo a curadora, a escolha foi feita para narrar uma história contínua.
A última sala da exposição destaca o ativismo de Claudia Andujar, com documentos históricos, incluindo sua caracterização como “terrorista” pela ditadura militar brasileira. Uma de suas séries mais conhecidas, “Marcados”, está representada apenas por duas fotografias e mais um conjunto de fichas do cadastro de saúde dos Yanomami, para o qual as fotos foram originalmente utilizadas.
O deck e o pátio da galeria arão a ser utilizados para bate-papos, performances e shows.
“A presença dos artistas indígenas aqui nos traz possibilidades de discussões críticas e maduras sobre representação, protagonismo e autonomia. Eles somam outras perspectivas à obra da Claudia, que foi responsável por uma produção que abriu muitas portas para a arte indígena contemporânea”, diz Beatriz Lemos.
INSTITUTO INHOTIM
Visitação de quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. Entrada R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).
NOVOS NOMES
Confira os artistas e coletivos cujas obras foram incorporadas à galeria Claudia Andujar Maxita Yano
Alexandre Pankararu
David Díaz González
Denilson Baniwa
Edgar Kanaykõ Xakriabá
Elvira Espejo Ayca
Graciela Guarani
Hutukara Associação Yanomami
Julieth Morales
Lanto’oy’ Unruh
Olinda Silvano
Paulo Desana
Renata Tupinambá
Tayná Uráz
Tiniá Pankararu Guarani
UÝRA