"Foi uma honra", diz ator que interpreta Jean Charles em série britânica
Edison Alcaide vive o mineiro assassinado pela polícia londrina em "Caso Jean Charles: Um brasileiro morto por engano", que estreia nesta quarta (30/4)
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Siga noHá 20 anos, no dia 22 de julho, o mineiro Jean Charles de Menezes foi assassinado na estação de metrô de Stockwell, em Londres, após ser confundido com terroristas. Ele tinha 27 anos. A polícia inglesa estava em uma caçada aos criminosos que, duas semanas antes, explodiram quatro bombas na rede de transporte da cidade e deixaram 52 mortos.
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Na véspera da morte do brasileiro, novos ataques frustrados intensificaram o medo da população. Em meio a erros e falhas de comunicação da Scotland Yard, a polícia londrina, Jean Charles foi erroneamente identificado como suspeito, perseguido pela cidade enquanto ia para o trabalho e morto com oito tiros – sete deles na cabeça.
Mesmo após ficar evidente que ele não era um dos terroristas, as autoridades inglesas hesitaram em revelar a verdade e em assumir a culpa pela morte de um inocente. Sem a confissão oficial da Scotland Yard, Jean Charles teve sua reputação manchada por informações falsas que perduram até hoje.
Reconstituição
A série britânica “Caso Jean Charles: Um brasileiro morto por engano”, escrita por Jeff Pope e dirigida por Paul Andrew Williams, que estreia nesta quarta-feira (30/4), no Disney +, se debruça sobre esse episódio. Em quatro episódios, que serão disponibilizados simultaneamente, a produção aborda os pontos de vista da vítima, de seus familiares e da polícia.
Quem dá vida a Jean Charles é o curitibano Edison Alcaide. Ele afirma que, desde que fez o teste para o papel, sente a importância e a responsabilidade de interpretar o protagonista.
“Jean Charles não foi vítima só dos erros policiais, mas também das informações incorretas que danificaram o legado dele. A família continua lutando pela verdade. Foram 20 anos de ativismo, e eles continuam tentando trazer à tona o que aconteceu. É uma responsabilidade e uma honra fazer parte de um projeto que os está ajudando a encontrar paz e justiça”, diz o ator.
Edison se mudou do Brasil para Londres em 2008. Nos primeiros meses, por coincidência, viveu e caminhou pelas mesmas regiões frequentadas por Jean Charles de Menezes. Segundo o ator, mesmo três anos após o caso, a cidade e, principalmente, as estações de metrô carregavam o peso dos ataques terroristas e do erro fatal da polícia.
Versão mentirosa
Ele conheceu o caso quando viu um mural em homenagem ao brasileiro ao lado da estação de Stockwell. Ao perguntar sobre a imagem, recebeu como resposta a versão distorcida – e já desmentida por câmeras de segurança – de que o mineiro havia pulado as catracas do metrô e reagido agressivamente à polícia.
“Lembro de ter pensado, mesmo na época, que ninguém merece que isso aconteça”, comenta Edison. “Apesar de ter recebido essa informação completamente falsa, desde o começo pensei que não justificava ele ter sido morto do jeito que foi. Anos depois, descobri que, na verdade, ele não correu. É só conforme o tempo a que conseguimos ver o dano que as fake news provocam”, comenta.
Nos episódios, a série retrata o tiroteio e também os momentos que o antecederam e o sucederam. Além de Jean Charles de Menezes, ganham destaque na produção o comissário da polícia Sir Ian Blair (Conleth Hill) e a comandante da operação antiterrorista, Cressida Dick (Emily Mortimer).
Em ritmo acelerado, a trama aborda como a pressão contribuiu para a falha da polícia e como faltou agilidade para assumir a responsabilidade do erro. “A série é muito corajosa de tocar em tantas feridas e de, inclusive, retratar tantas pessoas que continuam vivas, como os policiais. É uma autocrítica e uma análise sobre as instituições [britânicas]. Ela traz muitos questionamentos e fico feliz de confirmar que não se esconde das questões difíceis”, afirma o intérprete do protagonista.
No caso de Jean Charles, a série é mais do que um recorte sobre sua morte e abrange também a relevância de sua vida, sonhos e ambições. Para interpretá-lo com fidelidade, Edison esteve em contato com parentes do mineiro, especialmente os primos que ainda vivem em Londres.
“Eles me deram informações cruciais que eu não podia achar em nenhum outro lugar. Pude conhecer mais do senso de humor e da resiliência dele. Estamos falando de alguém que se mudou cedo para São Paulo e depois foi para Londres”, diz.
“Ele tinha essa paixão pelo mundo e por outras culturas, além de ter muito orgulho de estar na Inglaterra. De repente, senti que a minha vida ficou conectada com a do Jean Charles e acredito que a série é mais um o no ativismo da família”, afirma.
Adaptação para o cinema
No Brasil, o caso do mineiro Jean Charles de Menezes foi adaptado para o cinema no filme “Jean Charles” (2009), dirigido por Henrique Goldman e protagonizado por Selton Mello. Patrícia Armani, prima de Jean Charles, e seu ex-patrão Maurício Varlotta participaram do longa, que acompanha a vida de Jean Charles, incluindo seu trabalho e a convivência com amigos e parentes em Londres, até o assassinato.
“CASO JEAN CHARLES: UM BRASILEIRO MORTO POR ENGANO”
• A série, com quatro episódios, estreia nesta quarta (30/4), no Disney +.
*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes