Sebastião Salgado morre aos 81 anos
Um dos mais importantes fotógrafos do mundo, o mineiro morreu em Paris, nesta sexta-feira (23/5), de complicações da malária, segundo informou a família
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Siga noO fotógrafo mineiro Sebastião Salgado morreu nesta sexta-feira (23/5) aos 81 anos, em Paris. "Ele contraiu uma forma particular de malária em 2010, na Indonésia, no âmbito do projeto 'Gênesis' [o livro que publicou em 2013]. Quinze anos depois, as complicações desta doença resultaram em uma leucemia severa, que acabou por vencê-lo", informou a família do artista à agência Presse.
"Através da lente de sua máquina, Sebastião lutou sem descanso por um mundo mais justo, mais humano e mais ecológico", acrescentaram seus familiares na nota.
Nascido em Aimorés, na região do Vale do Rio Doce, Salgado exilou-se na França, em 1969, durante a ditadura militar brasileira. Com seus registros documentais em preto e branco, tornou-se um dos fotógrafos mais reconhecidos do mundo, privilegiando temas humanitários e ambientais em séries como "Exodus".
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Casado com Lélia Salgado desde 1967, Sebastião deixa os filhos Juliano e Rodrigo.
O Instituto Terra, fundado por Sebastião e Lélia Salgado em 1998, publicou uma homenagem nas redes sociais lamentando a morte do fotógrafo.
"Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", diz um trecho da nota.
Projeto de reflorestamento
Com sede em Aimorés, o Instituto está instalado na antiga fazenda da família Salgado. Local ao qual o fotógrafo retornou no fim dos anos 1990, após décadas documentando o mundo.
Ao reencontrar a terra natal, viu um cenário de desmatamento e degradação ambiental. Foi então que ele e a companheira deram início a um projeto de reflorestamento. Desde então, a organização já plantou mais de 2 milhões de árvores nativas da Mata Atlântica.
A jornada é retratada em parte no documentário "O sal da terra" (2014), disponível no Globoplay. Dirigido por Juliano Salgado, filho do fotógrafo, em parceria com o cineasta alemão Wim Wenders, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário.
Trajetória
Pós-graduado em Economia pela USP e doutor pela Universidade de Paris, Sebastião Salgado trabalhava na Organização Internacional do Café, em Londres, quando realizou uma viagem até Angola para coordenar um projeto.
Foi durante essa experiência que nasceu seu interesse pela fotografia. A partir daí, teve as primeiras experiências como fotojornalista para veículos da imprensa estrangeira.
Sua consagração veio em 1986, com uma série de imagens de garimpeiros de Serra Pelada. Desde então, registrou também as migrações humanas na série "Exodus" e regiões intocadas do planeta no projeto "Gênesis", seus dois trabalhos mais reconhecidos. Fotografou também a Amazônia, a África e as Américas.
Atualmente está em cartaz uma retrospectiva da obra de Salgado em Deauville, cidade do litoral norte da França. Na inauguração da exposição, em 1º de março, Salgado emocionou-se com a homenagem. "Algumas vezes as pessoas me dizem que sou um artista, eu digo que não, que sou um fotógrafo", afirmou.
A Academia de Belas Artes da França, da qual Salgado era membro, descreveu o fotógrafo como uma "grande testemunha da condição humana e do estado do planeta", em comunicado em que anunciou a sua morte.
De Ruanda à Guatemala, ando por Indonésia e Bangladesh, o brasileiro documentou fomes, guerras, êxodos e exploração trabalhista no Terceiro Mundo com o olhar empático e imparcial "de alguém que vem da mesma parte do mundo", como ele costumava dizer.
Universo fotográfico
Seu universo esteticamente elegante era também uma celebração das mais belas paisagens e ao mesmo tempo um alerta sobre a necessidade de protegê-las diante da emergência climática.
Salgado recebeu prêmios de prestígio, incluindo o Príncipe das Astúrias e o Prêmio Internacional da Fundação Hasselblad (com Folhapress).