Tributo a Edna

Fundadora da Alphorria deixa um legado relevante para a moda mineira

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Edna Thibau sempre foi o melhor cartão de visitas da Alphorria. Sua paixão pela marca era tão grande e verdadeira, que conseguia transmiti-la, sem esforço, para toda a cadeia da moda. Bem-humorada e divertida, transitou pelo complicado mundinho fashion por 40 anos, sempre com elegância, não só no modo de se vestir, mas, sobretudo, nas relações com as pessoas que a rodeavam. Enquanto tocava o negócio, o dia a dia da fábrica, a criação, as campanhas de lançamentos das coleções, angariava simpatias e irradiava humanidade por onde ava.


Acompanhar Edna Thibau não era fácil. Focada no trabalho, virava noites no trabalho sem problemas, se necessário. Em busca do conceito da Mulher Alphorria, leme da equipe criativa, chegou a percorrer todas as capitais do Brasil, observando os padrões e gostos das mulheres de cada região. Entrar em um avião para realizar pesquisa de moda ou para resolver um “pepino” era corriqueiro, como lembra o stylist Giovanni Frasson, publisher da revista Número Brasil.


“Quando nos conhecemos, Edna me levou até sua sala, na antiga fábrica, um local cheio de tecidos e araras de roupas, para conversarmos. Na época, a Alphorria comprava um jérsei chinês, boom do momento, cuja entrega estava atrasada. Ela me contou, tranquilamente, que teria de ir até a China para ver o que estava acontecendo. Fiquei me perguntando: que mulher é essa que vai para a China, fica dois dias, e volta?”.


Porém, o que impressionou Frasson foi a demonstração de como ela criava suas moulages. Diante dele, ela pegou uma bonequinha, um quadrado de tecido, e, em dois segundos, construiu um vestido com drapeados, dobraduras, no corpo do manequim, usando alfinetes e a própria mão. “Uma Vionnet brasileira, pensei na hora. Realmente, Edna foi uma das maiores moulagistas do Brasil”.


Assim, se inaugurou uma parceria que durou mais de uma década. Responsável pela imagem da Alphorria, ele assinou a maioria dos catálogos e desfiles nas semanas de lançamentos de moda no Brasil, como Fashion Rio e São Paulo Fashion Week. “Tínhamos uma sintonia forte, ela acreditava muito em mim e eu nela e construímos uma grande amizade. Edna era linda, talentosa, uma superempresária, sempre carinhosa com sua equipe, tratava todos muito bem”.


Susana Barbosa, publisher e diretora editorial da ELLE Brasil, considerada uma das personalidades mais influentes da moda mundial, segundo lista da plataforma The Business of Fashion, também se sentiu tocada pela morte da estilista mineira. “No campo profissional tenho muita iração por tudo que a Edna construiu. Erguer uma marca e fazer com que ela seja perene, como a Alphorria, é para mulheres bravas como ela. Fazer com que essa marca extrapole territórios e se mantenha atual em um tempo que tudo muda muito rápido, é também irável. Mas eu guardo lembranças de uma Edna muito acolhedora, com suas filhas, netos, e outras mulheres como eu”, salienta.


Elas estiveram juntas algumas vezes. “Sua beleza, sua generosidade, sua paixão e talento genuíno me marcaram muito. Sentirei saudades, mas tenho certeza de que seu legado será sempre lembrado e pavimentará o caminho para muitas outras mulheres que, como ela, fazem tudo acontecer”.


Início


Ao fundar a Alphorria, junto com o marido Evaldo Thibau, em 1985, Edna, formada em istração de empresas, já havia percebido que a moda estava na sua origem, na reprodução de um ambiente familiar que tinha a avó e a mãe, ambas Terezas, como protagonistas, conforme relata no livro “Eu, Alphorria”, que escreveu e foi lançado no aniversário de 30 anos da marca. Ali, conta sua trajetória, estreitando vida pessoal e profissional.


Desde o começo da empresa, ela já tinha um propósito definido: fazer com a malha, até então um tecido relegado a segundo plano, um produto fashion por meio da moulage e das técnicas de alfaiataria. Feminilidade e sensualidade também estavam nesse pacote. Com o ar do tempo, outros tecidos e elementos foram sendo acrescentados às coleções.


Costanza Pascolato, uma das maiores autoridades no campo da moda, certifica que, realmente, a malha não tinha esse tipo de aproveitamento no Ocidente. “Ia sempre a Belo Horizonte como editora da revista Cláudia. Os mineiros foram muito influenciados pelos japoneses, e, pelo que percebia, a Edna foi na contramão daquela roupa larga, solta, usando a malha para construir uma silhueta, que moldava o corpo e que as brasileiras adoram”.


A estilista, autodidata, conseguiu expandir a Alphorria no Brasil afora e conquistar lojistas de todo o país, além de ter efetuado investidas internacionais. Tornou-se a única marca de relevância nascida na década de 1980, que se manteve de pé operando no atacado e no varejo. Nessa arrancada, Edna não só fez escola como foi escola para uma geração de estilistas, que abraçava como uma mãezona. Ao mesmo tempo, era uma espécie de diva para um séquito de iradores.


Os 40 anos da Alphorria foram comemorados em março, com um almoço na fábrica para 120 empregados. Uma história de vencedores, que atravessaram os solavancos da economia do país sob as rédeas curtas da gestão de Evaldo, apostando em coleções temáticas atraentes, vendas otimizadas, criatividade e produtividade, parceria com os clientes nos bons e maus momentos.


Padrão


A qualidade sempre foi inegociável para a estilista, como atestam os que conviveram com ela. Estava presente nos catálogos e desfiles primorosos, apresentados pelas melhores modelos do mercado, nomes como Ana Beatriz Barros, Mariana Weickert, Carolina Ribeiro, Ana Cláudia Michels, Isabela Fiorentino, entre outras profissionais nacionais e internacionais. Até Gisele Bündchen, em início de carreira, posou para a Alphorria. Presente também na escolha de grandes nomes da fotografia, como Iko Ouro Preto, Gui Paganini, Jacques Dequeker, Miro, Daniel Klajmic, Fernando Louza, além dos mineiros Gustavo Marx e Márcio Rodrigues. Até hoje, essa qualidade prevalece na imagem da marca.


Marco Túlio Assef, representante da Alphorria há 35 anos e responsável pelo showroom localizado na Via Olímpia, em São Paulo, é fruto do padrão Edna Thibau. Ali o espaço clean é impecável, exibe móveis assinados, piso em mármore, TVs estrategicamente colocadas, tudo para destacar a coleção rigorosamente disposta nas araras. “Ele era a “menina dos olhos” da Edna, naturalmente chique e acolhedor como ela era. Não faltam as orquídeas das quais tanto gostava e o champagne, sua bebida favorita. Agora, nossa missão será dar continuidade ao seu trabalho”.


A morte da estilista, divulgada nacionalmente, ocasionou mensagens de pesar na mídia e nas redes sociais. Cláudia Raia, uma das muitas atrizes que ela vestiu nas novelas globais e se tornou sua amiga, se manifestou, destacando-a como “uma mulher espetacular, feminista, grande empresária e responsável pela geração de muitos empregos para mulheres. “Estou realmente emocionada. A Alphorria é uma marca que eu amo, que eu uso sempre, e que vai continuar existindo, é claro, porque ela deixou um legado lindo, potente, uma família incrível. Tinha muito orgulho dessa amiga da moda. Vai fazer muita falta”.


Apesar da dedicação ao trabalho e de defender a liberdade feminina, a família sempre foi o porto seguro para Edna, mãe de 3 filhos e avó de cinco netos. Teve o prazer de ter as duas filhas, Fernanda e Karla, seguindo seus os, uma na área comercial, outra na equipe de estilo.


Ela, que ocupava um cargo no conselho da empresa, estava pronta para retornar à linha de frente, dentro das reformas propostas para os próximos anos, como explica Wanessa Cabidelli, responsável pelo marketing da Alphorria. “Edna foi uma inspiração desde o primeiro momento que a conheci. Foram 23 anos sempre ligadas pelo trabalho ou pela vida pessoal. Era uma daquelas pessoas que entram no nosso coração e ficam eternamente. Foi a maior honra da minha vida ter trabalhado com ela”, pontua.

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