Formada em jornalismo pela PUC Minas. Começou como estagiária nos Diários Associados e teve agens por editorias como Polícia, Saúde, Imóveis, Negócios e Emprego. Hoje é especializada em gastronomia e também escreve sobre moda
Estilista Paloma Okano, Faz questão que a roupa dure, não quero que seja tão efêmera
crédito: oli.O/Divulgação
Quimono, chemise, colete, camisa, trench coat. Quem disse que essas peças não podem estar no guarda-roupa das crianças? A marca de Belo Horizonte oli.O vai na contramão de toda e qualquer convenção ao adaptar modelagens ditas adultas para o universo infantil.
A vontade de inovar veio de Paloma Okano, que estudou moda e arquitetura ao mesmo tempo. Ora ela fazia estágio em escritórios de arquitetura, ora em confecções (como a da Graça Otoni, com quem diz que aprendeu todo o processo fabril). Quando se formou, abriu uma confecção de órios. Logo depois, foi trabalhar como lighting designer.
Aí veio a pandemia e sua filha, Olívia, nasceu. O desejo de voltar a trabalhar com moda se misturou com uma indignação materna: “Não existia roupa neutra para criança, e não estou falando só de gênero. Mais minimalista, com menos informação, mas bem costurada. Fiquei indignada.” O próximo capítulo dessa história você já deve imaginar. Paloma começou a fazer roupas para a filha – ela aprendeu desde pequena a costurar com a avó e a mãe. Os amigos gostaram e a incentivaram a montar um catálogo para produzir sob encomenda. Logo o ateliê em um quarto da casa ficou pequeno. Outras mães queriam vestir os filhos totalmente fora do padrão.
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Respingos de tintas
Uma das primeiras criações da oli.O (nome que combina o apelido e a inicial do sobrenome de Olívia) foi o macacão com respingos de tinta. “Meu marido [Nicolás Terroba, o Nico] é artista plástico e, entre um quadro e outro, espirra as tintas. As cores são as que ele está usando no momento”, explica. A peça tem manga curta, gancho baixo para que a criança possa se movimentar livremente e bolsos do lado de trás que funcionam como um reforço, afinal, o bumbum está sempre no chão.
Depois vieram outras, que não são nada comuns no setor infantil. A chemise de manga curta e modelagem over pode ser usada sozinha ou combinada com calça e regata, por exemplo. Outro item que leva ousadia para o armário infantil é o quimono. “Não faço um quimono japonês com todo o rigor, é uma versão infantil. A faixa não fica solta, justamente para facilitar a amarração.”
Agora imagina o charme de um mini trench coat. Paloma faz com neoprene para que o casaco fique leve, resistente e fácil de cuidar. Também é apaixonante o colete, que pode ser peça única ou de sobreposição. O modelo em tecido oxford xadrez, que mistura tons verdes, carrega toda a elegância da alfaiataria tradicional.
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Modelagens
Nenhuma escolha é por acaso. O monocromático, quase sempre em tons neutros, reafirma o minimalismo, que está no seu DNA – ela é neta de japoneses. O conforto se traduz em modelagens amplas e simplificadas, sem excessos, assim como no uso de tecidos naturais, como tricoline, cambraia e sarja 100% algodão. “Uso costuras sempre dubladas ou embutidas. Quase dá para vestir do avesso”, acrescenta Paloma, que tem como modelo de prova a própria filha.
Para a estilista, a durabilidade também é um valor importante para a marca, tanto que oferece garantia ilimitada. Soltou um botão, a costura se desfez, ela conserta sem nenhum custo. “Faço questão que a roupa dure, não quero que seja tão efêmera. A gente investe tanto no nosso armário, por que não ter o mesmo cuidado com o da criança? Que possa ser uma peça afetiva, que você vai guardar ou dar para uma pessoa querida.”
Quase todas as roupas, que vestem de seis meses a seis anos, podem ser usadas por meninos e meninas – inclusive os vestidos.
“Quando comecei, me pegou essa questão do gênero na indumentária. Por que a camisa masculina abre para um lado e a feminina para outro? Aí fui entender as modelagens, as regras seguidas pela indústria, mas isso não tem muito mais sentido, então fui refazendo tudo.” A versatilidade é explorada, ainda, em peças dupla face.
Pensando na praticidade, as cores básicas facilitam a combinação de todas as peças do guarda-roupa. E veja só que inovação: uma linha com tricoline já amassado, preparado para qualquer brincadeira. Por enquanto, entraram camisa e um vestido com alça regulável que vira laço nas costas. Quando já não serve, pode virar saia com suspensório.
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Produção artesanal
Paloma chegou a abrir uma loja e fábrica no Mercado Novo, Centro de BH, mas, como a demanda só aumentava, transferiu a produção para um galpão. Desde então, investe na venda on-line e atende clientes no Brasil inteiro, especialmente São Paulo.
“Faço todo o processo de corte e tenho pessoas que me ajudam a costurar e dar acabamento, mas o meu produto continua a ser bem artesanal. Os botões coloridos [que são marca registrada da oli.O] são um detalhe artesanal que é difícil de replicar no industrial”, pontua.