
Conheça o mineiro que desbrava trilhas, serras e ruínas em BH e arredores
Atleta se divide entre a vida de corredor e o jornalismo, pesquisando histórias de cidades e paisagens do estado
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Siga noÉ caminhando ou correndo por “BH e as tantas Minas Gerais” que Bernardo Biagioni, de 36 anos, pesquisa o corpo e o território. Com quase 20 mil km percorridos desde 2016, o mineiro, que se embaralha entre ser atleta, jornalista, curador e criador de conteúdo sobre suas “andanças”, se dedica a entender o estado, seja por meio da leitura de mapas centenários ou ouvindo o ruído seco do pisar na terra.
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Para ele, a capital sempre foi casa. “Sem síndrome de vira-lata por aqui”, ele disse e explicou que, quanto mais conhecia terras estrangeiras, mais se dedicava a explorar nossas regiões, serras e ruínas. “A gente se encanta tanto pelo outro mundo e acaba esquecendo a nossa própria casa e a possibilidade de fazer história onde vivemos. Nosso quintal é o melhor lugar do mundo”.
O jornalismo, então, acaba surgindo desse interesse em viagens e histórias. “Me deu a amplitude de pesquisa para velejar por conhecimentos”. Bernardo trabalhou em redações durante cinco anos: foi estagiário e colunista de viagens na antiga "Revista Ragga" a partir de 2007 e, depois, ainda no quinto período da faculdade, editor da extinta "Ragga Drops" – um suplemento adolescente que preenchia algumas páginas do Jornal Estado de Minas.
Depois, fundou a Quartoamado, uma galeria de arte que surgiu na intenção de valorizar a cena de artistas locais que utilizavam as paredes de BH como forma de expressão. “O objetivo era articular esse tema e fortalecer esses grupos e seus projetos no mercado de arte urbana”.
Mais tarde, em 2017, a ideia do CalmaClima, que reúne um grupo para correr pela cidade, nasceu, já que o esporte já estava presente desde a juventude. “Acabei me afastando da arte e mergulhei na corrida de novo. O Calma surgiu daquele pensamento esvaziado de que ‘BH não tem nada’, era reproduzido demais pela galera. Hoje nem tanto, a cidade tomou a cena nacional de assalto, com bons lugares, artistas, um grande carnaval, e claro, as belas paisagens”. O projeto tinha o intuito de, então, identificar e reconhecer Belo Horizonte a partir das bordas; a Serra do Curral foi o primeiro destino deles que, no início, chegaram a reunir 200 pessoas e, hoje, arrastam um número perto de mil atletas livres.
Porém, por uma facilidade, a caminhada virou corrida e também migrou para as regionais da capital. Lugares como Morro do Pires, Serra da Calçada e Pico Belo Horizonte foram algumas das primeiras rotas do CalmaClima, que realiza suas atividades todas as semanas desde 2018, com exceção do tempo de pandemia da Covid-19. Em um aplicativo no celular, Belo Horizonte aparece colorida quase por completo, mostrando os lugares por onde o jornalista percorreu.
Documentar, correr e contar histórias
Em um mundo onde as informações competem cada vez mais contra os estímulos e o rolar interminável das timelines, receber atenção é cada vez mais difícil. Foi nesse cenário que Bernardo Biagioni viu sua forma de se expressar, a escrita, “se esvair pelos dedos”, como ele descreveu. “Era onde eu me sentia mais confortável”.
Na busca por um lugar “mais contemporâneo” como o audiovisual, o atleta tenta aceitar o formato do instagram, onde ele acumula mais de 20 mil seguidores, mas, segundo ele, “é uma disputa voraz pelo feed”. O Youtube, “que abraça tantas gerações e, de certa forma, parece que resiste ao tempo”, apareceu há dois meses como uma boa alternativa para o conteúdo de uma prática que o provoca há dez anos.
A inspiração é um tanto curiosa: sua sobrinha de 11 anos, a Maia. “Tenho me encontrado muito porque sinto que o que preciso é de tempo. Os vídeos demandam paciência, o formato permite essa expansividade, gosto de pensá-los como uma ‘pesquisa-terapia’. Pisar territórios, pensar sobre eles e colocar para fora, verbalizando a pesquisa. As ideias fixam na cabeça”. Bernardo menciona, ainda, que a troca de comentários o instiga bastante. “São pessoas com 70+ que somam aquelas histórias para além dos textos e pesquisas”, conforme disse o atleta, é uma camada especial de vivência.
As experiências se esticam de uma ultramaratona de 60 km “pelas bordas” em direção a Nova Lima, até uma maratona de 37 km pelo Rio Arrudas, quando, por meio de um mapa da cidade, traçou um caminho da nascente do Parque das Águas, no Barreiro, até Sabará, na Grande BH. “A cidade também toma esse lugar de e para conhecer, se divertir e desafiar”.
Seja sobre o antigo e desaparecido curral del-Rei e a civilização que ali existia, a descoberta do crânio de Luzia na Gruta da Lapa Vermelha e o abocanhar das serras do Curral, da Moeda, Rola-Moça e a Gandarela nas paisagens por Minas Gerais, Bernardo reitera que são diversas as histórias que, por mais que não mostrem o futuro, “são pistas do que podemos encontrar pela frente”.
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