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CORPO DE BOMBEIROS

"Podemos ocupar os espaços que queremos", diz coronel Jordana de Oliveira

Primeira mulher a assumir o comando do Corpo de Bombeiros de Minas, militar destaca as conquistas femininas na corporação e revela suas principais ações

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Um misto de gratidão e ansiedade definiram as 24 horas vividas pela coronel Jordana de Oliveira Filgueiras Daldegan antes da solenidade de troca de comando do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), na última terça-feira, em Belo Horizonte. Primeira mulher a assumir o comando-geral da corporação, ela conversou com a reportagem do Estado de Minas. “É uma alegria que me tomou o ser e que não tem explicação. Ver a felicidade com que todo mundo recebeu essa notícia e quantas pessoas têm me abordado também. Hoje, posso falar que é muita gratidão e responsabilidade”, relatou, em entrevista exclusiva.


Especialista em istração pública, em gestão estratégica e políticas públicas, a coronel ocupou diversos cargos ao longo da carreira, como a subchefia da Seção de Planejamento Operacional do Estado-Maior, o subcomando do 3º BBM, a chefia da Assessoria de Comunicação do CBMMG e, recentemente, a Diretoria de Assuntos Institucionais.

A nova comandante-geral do CBMMG afirmou que sua gestão dará seguimento ao planejamento estratégico estabelecido pela corporação em 2015 e que termina em 2026. Jordana considera o desenvolvimento da corporação, desde então, um sucesso. “Eu pego o último biênio desse planejamento. É uma obrigação honrar esse último ciclo, porque ele tem dado certo. Acho que a própria sociedade consegue perceber o quanto o Corpo de Bombeiros evoluiu nos últimos anos, levando um serviço de qualidade para a população mineira”, disse.

As iniciativas visam não apenas a ampliação da estrutura física, mas também o aumento de vagas e, consequentemente, da capacidade de atendimento em todas as áreas. Atualmente, existem tratativas para a instalação de brigadas municipais em sete municípios mineiros. Conforme o Plano de Comando, os municípios com mais de 30 mil habitantes seguem elegíveis para a instalação de estruturas do CBMMG.
“Teremos a continuidade dessa evolução que a gente está vivendo, voltada muito para o ser humano que há por trás da farda. A gente não pode nunca esquecer isso. Essa evolução só é possível porque a nossa corporação é formada por homens e mulheres que todos os dias se dedicam a servir e a colocar a sua vida em risco para salvar as pessoas”, destacou.

Tecnologia em campo

Além da expansão do Corpo de Bombeiros, a nova comandante-geral também vai dar continuidade ao uso de tecnologias para a prevenção e combate de desastres naturais. “Essa questão dos extremos climáticos têm impactado diretamente no nosso serviço como bombeiro militar. Diante disso, a corporação tem trabalhado com muito planejamento e empenhando recursos para redução do risco de desastres. Vamos ampliar a questão dos equipamentos de tecnologia a favor do monitoramento e utilizar tudo isso que a gente tem hoje no mercado a nosso favor”, garantiu.

O uso de drones e detectores de vida, por exemplo, são essenciais para encontrar vítimas desaparecidas em estruturas colapsadas. Em 2024, a corporação adquiriu novos tablets de vistoria e estabeleceu a integração entre os sistemas da Jucemg e Infoscip (sistema informatizado de projetos de SCIP), otimizando os processos de segurança contra incêndio e pânico.

Ainda no ano ado, Minas sofreu com o longo período de estiagem, o que contribuiu para que incêndios florestais atingissem grandes proporções rapidamente. Jordana considera que o último período de incêndios foi o mais crítico dos últimos anos. “Já estamos planejando como vai ser o próximo período, analisando o que deu certo e o que precisa ser aprimorado, para que a gente possa melhorar ainda mais os nossos números”, explicou.

Durante o combate às chamas, a Sala de Coordenação do Período de Estiagem usou satélites para identificar focos de calor e incêndios em vegetação, antecipando ações para controlar emergências. No final do ano, o CBMMG adquiriu licenças do software ArcGIS para aprimorar a capacidade de mapeamento de áreas de risco ao permitir enxergar em tempo real os recursos em campo e otimizar os atendimentos.

Trabalho em Brumadinho

Desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, a presença do Corpo de Bombeiros nas áreas atingidas tem sido constante. Ao todo, foram 272 óbitos na tragédia (havia duas grávidas). Na última quinta-feira, depois que agentes encontraram “vários segmentos de interesse”, o exame antropológico possibilitou a identificação da 268ª vítima: Maria de Lourdes da Costa Bueno, que tinha 59 anos quando perdeu a vida no desastre. “O compromisso firmado pela corporação desde o primeiro momento de não desistir se mantém”, reforçou Jordana.

Ela esclareceu que, agora, o CBMMG está na oitava estratégia para verificar os 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos – já foram analisados 84% do volume total. “É uma operação extremamente complexa para que a gente possa tentar localizar as joias que faltam. Vamos continuar até chegar a 100%”, completou. Duas vítimas ainda não foram localizadas.

Competência e determinação

A nova comandante-geral reforçou a importância de valorizar a parte humana por baixo da farda de cada bombeiro e falou sobre família, que considera seu porto seguro. Carinho, cuidado e autonomia foram as palavras usadas por Jordana para falar dos pais, que sempre a apoiaram em suas escolhas. Além disso, o exemplo e a inspiração vieram do avô, que foi sargento da Polícia Militar.

Durante a entrevista ao EM, Jordana lembrou do início da carreira. Ela ingressou no curso de formação de oficiais (CFO) em 2000, quando tinha 19 anos, fazendo parte da primeira turma após a desvinculação do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar.

Na época, a participação feminina no CBMMG, que teve início em 1993, ainda era considerada uma conquista recente. Ela contou que enfrentou vários desafios: nem todos os quartéis tinham alojamento feminino, os equipamentos não eram adequados e a convivência foi desafiadora.

“A capa de combate incendiário, por exemplo, cabiam duas Jordanas dentro", relembrou. “O crescimento foi gradativo, mostrando que a gente conseguia cortar uma árvore, carregar a prancha, ajudar a içar a vítima. E assim seguimos até conseguir assumir funções de chefe de guarnição, de dirigir uma viatura de bombeiro, de pilotar um helicóptero, de comandar as unidades”, acrescentou.

Com mais de duas décadas de profissão, as memórias marcantes para Jordana ainda são as do início da carreira, quando ainda fazia serviços operacionais e de atendimento em ocorrências. “É o acidente que você pega na 381, conseguir salvar uma vítima, a primeira vítima que você perde e volta frustrado para o quartel. Porque você acha que você vai conseguir salvar todo mundo e não é sempre assim. Lógico que a gente tem os grandes momentos, né? Mas essas ocorrências pequenas do dia a dia foram as que mais me marcaram”, destacou.

Condição de igualdade

Hoje, apenas 10% do Corpo de Bombeiros é composto por mulheres. Isso se dava por uma limitação legal de número de vagas ofertadas. Entretanto, no último concurso, divulgado em janeiro deste ano, essa distinção deixou de existir, ou seja, homens e mulheres irão competir em condição de igualdade pela aprovação.

“Quebrar essa barreira do percentual de inclusão foi uma das nossas grandes vitórias nos últimos tempos. O concurso está em andamento ainda, então a gente não consegue ter um parâmetro se já teve uma diferença ou não. Mas eu acredito muito que no próximo a gente já vai ter um percentual mais elevado de mulheres”, refletiu.

Jordana espera ser uma inspiração para outras mulheres que decidam seguir a carreira militar ou qualquer outra que seja desafiadora. “Eu acredito que vai inspirar não só para carreira militar, mas para tantas outras. Vai mostrar que a gente consegue, sim. Podemos ocupar os espaços que queremos. E com muita competência.”

Caminhos entrelaçados

Para Jordana, a corporação e a vida pessoal se entrelaçam. Ela conheceu o marido, Alessandro Fábio Daldegan, coronel BM veterano, durante o Curso de Formação de Oficiais (CFO), com quem tem dois filhos: João, de 18 anos, e Vitor, de 12. “Eu conheci o meu marido no CFO e ali já começamos nossa história. Fomos crescendo juntos na corporação e criando a nossa família. Os caminhos foram sendo trilhados em paralelo, mas extremamente juntos”.

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Sobre a criação dos filhos, a coronel disse que, com dois militares morando juntos, houve um cuidado a mais para não levar o peso da profissão para casa. “Por mais que faça parte da nossa vida e não tem como desvincular, existe o respeito de saber que lá em casa não é um quartel. Tivemos a preocupação de trazer uma leveza para criação dos filhos”, disse.

Como mãe, a grande preocupação é que os meninos escolham profissões que os façam felizes. “Se eles puderem pegar o exemplo da minha felicidade em ser bombeiro e escolher uma profissão que vai deixá-los felizes, eu já estou extremamente satisfeita”, afirmou. 

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