Ex-vereador diz que crianças podem imitar professores homossexuais
Prefeitura de Nova Serrana classifica declaração como preconceituosa, discriminatória e infundada; Câmara repudiou fala de Jadir Chanel
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Siga noO ex-vereador de Nova Serrana, Jadir Chanel (Cidadania) gerou indignação ao sugerir a substituição de professores homossexuais da educação infantil na rede de ensino do município do Centro-Oeste de Minas. Ele alegou que as crianças poderiam imitar e copiar os “trejeitos”, se referindo à orientação sexual dos docentes.
A declaração classificada pela própria prefeitura como “discriminatória e preconceituosa” ocorreu durante uma reunião da Câmara Municipal na terça-feira (18/2), quando ele apresentou a proposta aos vereadores ao usar a Tribuna Livre.
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Mencionando a Constituição Federal, Chanel afirmou que a sugestão é uma forma de “zelar pelas crianças". Ele argumentou, sem apresentar comprovação científica, que a formação principal da criança ocorre até os 8 anos.
“Então, ela pega os jeitos, trejeitos, aprende com quem convive e, hoje, grande parte dos pais deixam as crianças na escola às 7h e as buscam às 17h”, declarou.
“O que venho pedir a vossas excelências não é que retirem essa pessoa, mas que a substituam. Que a coloquem para lecionar a partir dos 10 anos. Mas que crianças de até 8 anos sejam acompanhadas por um homem ou uma mulher. O assunto é pesado, mas necessário”, defendeu.
Nas redes sociais, o ex-vereador se apresenta como cabelereiro. Em postagens, se diz conservador, cristão e defensor dos “bons costumes”. Jadir Chanel foi vereador por um mandato, de 2017 a 2020, e um dos responsáveis pela denúncia que levou ao afastamento de seis parlamentares por contratação de assessores fantasmas e peculato.
Reações e repúdio
Em nota, a Câmara de Nova Serrana afirmou manter o “compromisso com os princípios democráticos e a garantia da liberdade de expressão, assegurados pela Constituição Federal”. O órgão esclareceu que os vereadores e cidadãos que usam a Tribuna Livre são “integralmente responsáveis pelo conteúdo de suas falas”.
A instituição repudiou qualquer forma de discriminação e reafirmou que “preconceito e homofobia são condutas inaceitáveis em uma sociedade plural e respeitosa”. Também destacou que as manifestações realizadas na Tribuna Livre não representam, em nenhuma hipótese, o posicionamento oficial da Câmara.
A prefeitura classificou as declarações do ex-vereador como “infundadas, preconceituosas e discriminatórias”. Em nota, reforçou que “não há qualquer embasamento científico que sustente tais afirmações, além de serem manifestações de preconceito e discriminação”.
“A homofobia e a transfobia são crimes no Brasil, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal. Atitudes como essa ferem os princípios da igualdade, do respeito e da dignidade humana”, declarou.
O Executivo municipal ainda reafirmou o compromisso com a “inclusão, diversidade e combate à intolerância em todas as suas formas” e disse que é “inissível qualquer discurso que promova a discriminação com base em gênero ou sexualidade.”
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“Todos os profissionais da educação, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, devem ser respeitados e valorizados pelo seu trabalho e dedicação”, concluiu.
Representação no Ministério Público
O vereador de Divinópolis, cidade vizinha a Nova Serrana, Vitor Costa (PT), protocolou uma representação no Ministério Público contra o ex-vereador por crimes de homofobia, discriminação e incitação ao ódio.
Os crimes estão previstos na Lei nº 7.716/1989, que tipifica condutas resultantes de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, incluindo a orientação sexual.