Acusado de espancar estudante na porta de boate vai a júri popular em BH
Oito anos depois, Rafael Batista Bicalho vai a júri popular por tentativa de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e utilização de meio cruel
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Siga noOito anos depois do crime, Rafael Batista Bicalho vai responder por espancar Henrique Figueiredo Papini de Moraes na porta de uma boate no Bairro Olhos D’Água, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte. Rafael vai a júri popular no dia 27 de março.
“Foram anos de muita ansiedade por esse momento. Oito anos revivendo a situação praticamente todos os dias. Estou esperançoso que o responsável responda pelos seus atos e que a pena seja exemplar, para que este sentimento de impunidade seja abreviado”, disse Henrique ao Estado de Minas.
Na época do crime, Henrique tinha 22 anos e estava no quarto período da faculdade de medicina. Hoje, ele é médico especialista em anestesiologista e trabalha em hospitais da Grande BH. Amante de esportes, Henrique disse que, antes do crime, praticava esportes coletivos, como futebol, mas foi diminuindo a frequência por não se sentir confortável.
“Muito tempo se ou, mas algumas sequelas continuarão eternamente. Convivo diariamente com surdez do lado esquerdo e paralisia facial do mesmo lado, devido às agressões. Isso me traz prejuízos na fala, no equilíbrio, além de zumbidos constantes. Hoje em dia só pratico esportes individuais”, disse o médico.
Rafael vai responder por tentativa de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e utilização de meio cruel. A participação de outros três agressores, inicialmente apontados, não foi comprovada por testemunhas e laudos técnicos, e eles não vão responder pela tentativa de homicídio.
“Que esse caso sirva de lição para outros jovens pensarem que seus atos tem suas consequências. Espero que Rafael responda por tentativa de homicídio e, além disso, que seja condenado e cumpra a pena estabelecida”, afirma Henrique.
O crime
No dia 7 de setembro de 2016, Rafael Batista Bicalho, na época com 19 anos, agrediu Henrique na saída da boate Hangar 677. O motivo da agressão foi ciúmes, já que Papini havia sido visto com a ex-namorada de Bicalho.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, Henrique foi agredido com sucessivos socos e chutes, foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e chegou a ficar em coma no Hospital Biocor, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O rapaz sobreviveu, mas sofreu traumatismo no crânio e na face, sangramento no ouvido e lesões no braço, cotovelo e joelho. “Me sinto melhor, mais forte emocionalmente, mas sigo fazendo terapia”, disse Henrique.
Alguns dias depois do crime, Rafael chegou a ser preso pela Polícia Civil, mas deixou a cadeia após uma audiência na Justiça e ou a ser monitorado por uso de tornozeleira eletrônica. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Rafael Batista Bicalho está desligado do sistema prisional desde setembro de 2018 graças a uma determinação judicial para retirada de tornozeleira eletrônica.
Na época do crime, uma matéria do Estado de Minas mostrou que Rafael foi citado pela ex-namorada em uma queixa policial de setembro de 2015. O caso se refere a um relato de lesão corporal feito pela jovem à polícia e na ocorrência relata que “houve agressões anteriores”.
A briga entre Rafael e a ex-namorada ocorreu por volta das 5h da manhã, em uma rua no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. No documento, ela disse ter sido xingada e empurrada duas vezes para fora do carro de Rafael, em uma discussão provocada pelo fim do relacionamento. Por causa dos empurrões, a estudante machucou o quadril e teve uma lesão no braço direito.
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Ainda segundo o boletim, ela foi deixada na rua, por Rafael, sozinha e em local desconhecido. No momento da queda, o telefone da jovem foi danificado. Ela foi ajudada por um amigo e procurou a polícia e atendimento médico antes de voltar para casa. No boletim, consta ainda relato de uma amiga da jovem dizendo que já presenciou agressões verbais proferidas por Rafael contra a ex-namorada.
Defesa
De acordo com o advogado de defesa de Rafael, Zanone de Oliveira Júnior, durante a investigação, não ficou comprovada a intenção de matar. “Foi uma briga de boate, teve um plano de fundo envolvendo uma mulher. Mas o que meu cliente quis foi lesionar."
Ainda segundo o advogado, desde o primeiro depoimento, Rafael manteve sempre a versão de que era uma briga e não tinha a intenção de causar um dano maior. "É um caso de lesão corporal. Buscamos uma mudança de dolo. Não houve tentativa de homicídio."
O advogado ainda informou que Rafael se formou em engenharia e está muito arrependido.