Protagonismo feminino é cada vez maior na Igreja Católica
Amparadas pelo papa Francisco, as mulheres assumem cada vez mais cargos importantes em instâncias de decisão no Vaticano, prática já comum na Arquidiocese de Be
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Siga noA Igreja Católica tem apresentado um cenário favorável, com diretrizes e ações positivas, ao protagonismo feminino, já havendo muitas leigas e religiosas em postos-chaves na instituição que, em dois milênios de história, sempre privilegiou líderes homens. Nos últimos anos, o papa Francisco tem escolhido mulheres para instâncias de decisão no Vaticano, mas, bem antes dessa atitude, a Arquidiocese de Belo Horizonte destinava cargos importantes a elas. A 7ª Assembleia do Povo de Deus (APD), realizada a partir de junho e conclusão prevista para 2026, ocorrerá nessa nova realidade – e cada participante poderá dar sua contribuição.
Entre os objetivos da AD, segundo divulga a Arquidiocese de BH, está a ampliação do espaço e promoção ainda maior do protagonismo das mulheres em setores de liderança, “fortalecendo a Igreja como lugar de acolhimento, sem discriminações, e consolidando o entendimento de que todos devem cuidar uns dos outros”. Em nota, a arquidiocese informa que essas e outras diretrizes serão incorporadas mais intensamente na vida das paróquias da capital e de 27 municípios da Região Metropolitana de BH (RMBH).
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“Nosso arcebispo metropolitano, dom Walmor Oliveira de Azevedo, antecipou essas mudanças que ocorreram, na Igreja, com o papa Francisco”, diz a assistente episcopal para a Pastoral, a professora de teologia Lucimara Trevizan, de 57 anos. Há três anos na equipe de coordenação pastoral da arquidiocese, setor antes na mão apenas de homens, Lucimara já teve encontro com o sumo pontífice, em 2025, quando recebeu o ministério de leitora, consagração da Igreja que permite a leigos e seminaristas ler a Palavra de Deus em celebrações litúrgicas. Antes, só era permitido a homens.
“Sou uma das mulheres, aqui, nesse trabalho de articulação da pastoral. Felizmente, desde o final da década de 1980, a Arquidiocese de BH atua com muitos conselhos, ações, pastorais. Então, fica mais fácil desenvolver o trabalho em conjunto, especialmente a articulação de bases”, explica Lucimara, esperançosa de que mais mulheres assumam cargos de decisão na estrutura da Igreja Católica.
Na avaliação da secretária Arquidiocesana das Juventudes, que integra o Vicariato da Ação Pastoral, Cícera Botelho Frazão, de 31, – profissional com especialização em juventudes e gestão de pessoas –, a mulher tem um papel diferenciado nas transformações da Igreja, trazendo “o olhar feminino do cuidado”, que se traduz em compartilhar, promover a aprendizagem, favorecer o coletivo. “Pastoral é cuidado”, resume.
Com longa experiência que incluiu participação, em 2013, na pré-jornada Mundial da Juventude (JMJ), em BH, e na JMJ-2024, no Rio de Janeiro (RJ), Cícera tem uma certeza: “Os desafios no dia a dia são muitos, ainda é um espaço clerical, masculino, mas aos poucos, devagarinho, portas vão sendo abertas para as mulheres”.
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A analista pastoral Renata Senhorinha Santiago, de 44, concorda que as mulheres têm um “olhar amoroso de cuidado e de humanidade”, um diferencial em ações cheias de desafios. Também leiga e primeira mulher na coordenação da Pastoral do Dízimo da Arquidiocese de BH e do Setor Social, Político e Ambiental da Região Nossa Senhora da Esperança (Rense), que inclui parte de BH e do município vizinho de Contagem, Renata, casada e sem filhos, está acostumada a participar de reuniões com maioria masculina, mas tira de letra. “Estou há 10 anos na Coordenação do Dízimo e há sete do Setor Social, Político e Ambiental. As pessoas me enxergam como ‘parte’, e isso é fundamental. Nós trazemos uma gestão com caráter de humanização, de busca de entendimento sobre todos os processos”, afirma.
De Roma para o mundo
Em 2021, o papa Francisco convocou o Sínodo dos Bispos, que mobilizou dioceses e arquidioceses, com suas comunidades paroquiais e instituições, em todo o mundo. Sínodo significa “caminhar juntos” e representou uma grande consulta popular, contemplando os fiéis sobre as expectativas para a Igreja nos próximos anos. As dinâmicas do Sínodo, com encontros regionais, continentais e a assembleia em Roma ocorreram de 2021 a 2023.
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No ano ado, o papa aprovou o documento final com as novas diretrizes para a Igreja, fruto do Sínodo. Agora, cada região do mundo é chamada a incorporar as diretrizes, resultado da consulta popular, no dia a dia da Igreja. “Os católicos de BH vão construir, juntos, esse caminho a partir da 7ª Assembleia do Povo de Deus”, informa a nota da arquidiocese. O cronograma pode ser conferido no site www.em-br.diariomineiro.net.
A partir de reuniões, nas comunidades de fé, nas instituições da Igreja, em cada lugar sob os cuidados da Arquidiocese de BH, os católicos vão elaborar sínteses que, ao final da APD, serão reunidas e submetidas a votação. As propostas aprovadas serão publicadas na forma de um documento, o Projeto de Evangelização da Arquidiocese de Belo Horizonte para os próximos anos, referência para todos os trabalhos desenvolvidos pela Igreja Católica na capital e RMBH. “O Projeto de Evangelização estará em harmonia com as mais recentes orientações do Papa Francisco.”
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Decisões de Francisco
No pontificado de Francisco, as mulheres aram a desempenhar papel de destaque na Santa Sé, rompendo laços milenares, pois os cargos eram ocupados apenas por homens. Em fevereiro, ele nomeou a irmã Raffaella Petrini presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e presidente do Governatorato (órgão executivo que istra o Vaticano). Membro das Irmãs Franciscanas da Eucaristia, funcionária da Congregação para a Evangelização dos Povos desde 2005, Raffaella Petrini, romana de 56 anos, é formada em ciências políticas e sucede, desde 1º de março, o cardeal Fernando Vergéz Alzaga, que completou 80 anos nessa data.
Em 6 de janeiro, o pontífice havia nomeado prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica a Irmã Simona Brambilla, ex-superiora geral das Missionárias da Consolata. Ela se tornou, assim, a segunda mulher a assumir um alto cargo na Cúria Romana. Antes, foi nomeada a Irmã Alessandra Smerilli para o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A decisão de Francisco foi possível graças às atualizações trazidas pela Constituição Apostólica “Praedicate evangelium”, de março de 2022, sustentada pela doutrina canônica que afirma que os cargos de chefia na Cúria não dependem da posição hierárquica, não estão vinculados à ordenação, mas são justificados apenas pelo mandato conferido pelo papa – dessa forma, é o mandato que confere a autoridade governante e não a ordenação.
“Nós trazemos uma gestão com caráter de humanização, de busca de entendimento sobre todos os processos”
Renata Senhorinha, Analista pastoral
“Nosso arcebispo metropolitano, dom Walmor Oliveira de Azevedo, antecipou essas mudanças que ocorreram, na Igreja, com o papa Francisco”
Lucimara Trevizan, Professora de teologia
“Os desafios no dia a dia são muitos, ainda é um espaço clerical, masculino, mas aos poucos, devagarinho, portas vão sendo abertas para as mulheres”
Cícera Frazão, Secretária Arquidiocesana das Juventudes