Santa Casa: gigante da saúde, enfim, em segurança
Com 125 anos de fundação, instituição de saúde de BH tem laudo de segurança contra incêndios aprovado. Documento exigiu investimento milionário
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Siga noCom mais de R$ 4,4 milhões de investimento, a centenária Santa Casa de Belo Horizonte conseguiu o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Agora, a “gigante da saúde de Minas Gerais”, que este ano completa 126 anos e ou por três incêndios desde 2012, conta com a certificação de segurança para situações extremas de fogo e necessidade de evacuação.
O laudo é emitido quando comprovado que um estabelecimento tem as medidas apropriadas de segurança contra incêndio e pânico. De acordo com o sargento Alexsander de Almeida Gobbi, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), todas as edificações de uso coletivo, incluindo hospitais, a depender das dimensões e características, devem ter equipamentos como saída de emergência, iluminação e sinalização de emergência, alarme de incêndio e extintor para conseguir o AVCB.
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O documento ou a ser obrigatório em Minas a partir da Lei Estadual nº 14.130/2001, publicada em 19 de dezembro de 2001. Ela é exigida para locais destinados ao uso coletivo, como edificações ou espaços comerciais, industriais ou de prestação de serviços, como hospitais, além de prédios de apartamentos residenciais.
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Assim, atribui ao Corpo de Bombeiros a função de analisar e aprovar o sistema de prevenção e combate a incêndio e pânico; o planejamento, coordenação e execução de vistorias nos locais em que a lei se aplica; além do estabelecimento de normas técnicas relativas à segurança das pessoas e seus bens contra incêndio ou outras catástrofes.
Segundo o sargento Gobbi, no entanto, o laudo não é obrigatório para o funcionamento de espaços hospitalares, a não ser que haja algum risco iminente. Nestes casos, a equipe dos bombeiros pode aplicar a interdição total ou parcial da edificação.
A coordenadora de segurança do trabalho da Santa Casa BH, Teodolina Paulino, ressaltou que, desde o início do período de obrigatoriedade, a instituição se dedicou a adequar o complexo hospitalar às exigências normativas. “Um dos principais desafios foi o alto custo e a complexidade técnica das adaptações necessárias, considerando que o hospital ocupa uma área de mais de 56 mil m², distribuídos por 10 prédios, incluindo o edifício principal, inaugurado na década de 1940”, contou ela. “As obras também precisavam ser realizadas de forma a minimizar os impactos nas operações diárias, o que exigiu um planejamento detalhado e execução cuidadosa.”
Segundo ela, um projeto inicial foi aprovado pelo Corpo de Bombeiros em 1994, seguido de outro em 2014. Porém, nenhum deles pode ser integralmente executado, uma vez que o investimento era muito alto e as obras, bastante complexas, teriam de ser feitas com o hospital ainda em funcionamento.
Em 2021, foi aprovado um novo projeto, cuja execução terminou em setembro de 2024. Entre as novidades está a vedação de shafts elétricos – espaços de agens dos fios nas instalações prediais, de maneira a evitar propagação de fumaça –; instalação de sistemas modernos de alarme e proteções nas rotas de fuga; além da eliminação de situações de riscos, como o uso de caldeiras e do gás liquefeito de petróleo (GLP). Em outubro, o hospital foi vistoriado e recebeu o laudo de segurança.
Durante o processo de readequação, o funcionamento do complexo hospitalar sofreu impactos, mas não foi interrompido. O hospital é responsável por R$ 3,5 milhões de atendimentos por ano, o que tornou o processo desafiador.
INVESTIMENTO
Para que tudo ficasse de acordo com o planejado, foi necessário investimento de R$ 4.415.415,75. Conforme a representante do hospital, R$ 2.028.269,75 foi investido na estrutura hospitalar. A instalação de corrimãos, a construção da casa de bomba de incêndio e a pressurização da rede de hidrantes fizeram parte do investimento. Já R$ 1.742.147 foi aplicado na ampliação da rede de hidrantes, instalação de proteções nas janelas e halls nas rotas de fuga, bem como na instalação de um novo sistema de alarme.
Além das questões estruturais, parte do valor investido total foi destinado a treinamentos da Brigada de Incêndio, que duraram de 2022 a 2024. Assim, a capacitação técnica e prática dos brigadistas teve um custo de R$ 644.999,00.
Os investimentos resultam em uma notável quantidade de itens que previnem incêndios e pânico. Agora, a Santa Casa BH conta com 55 mil litros de água disponíveis na reserva de incêndio, abastecendo 107 hidrantes, que contam com 214 mangueiras de 15 metros cada. O complexo contabiliza ainda 352 extintores de incêndio, além de 97 de reserva.
Outro investimento foi em equipamentos de iluminação, que garantem a visibilidade e segurança em casos de falta de energia, além de placas de sinalização. Na readequação, 732 luminárias de emergência e 934 placas de sinalização foram instaladas, de maneira a orientar as pessoas sobre saídas e pontos de encontro com a brigada, deixando as rotas de fuga “sempre claras e íveis”. Também foram instalados 115 novos botões para acionamento manual de alarme.
CONFIABILIDADE
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Para Teodolina Paulino, a obtenção do AVCB significa um marco para a Santa Casa BH. Segundo ela, o hospital agora tem a comprovação de segurança por atender “aos rigorosos padrões de prevenção de incêndios e pânico” do CBMMG e, com isso, tem garantias na confiabilidade institucional e uma maior facilidade n a captação de recursos.
“A certificação reforça a confiança de pacientes, colaboradores e parceiros, consolidando a imagem de responsabilidade e comprometimento da Santa Casa BH, além de facilitar o o a financiamentos, parcerias e doações, fundamentais para a continuidade do hospital, que atende 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, conta.
A certificação em vigor também regulariza alvarás e facilita a obtenção de certificações de acreditação hospitalares, disponibilizados pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). Trata-se de um processo de fiscalização e de recomendação sobre ferramentas, técnicas, processos ou linhas metodológicas a serem seguidas no setor de saúde, visando a segurança no processo, gestão integrada e maturidade institucional.
“É importante destacar que a maioria dos hospitais públicos e filantrópicos de BH que atendem pelo SUS ainda não possui o AVCB, em função da natureza de suas instalações antigas, que demandam grandes investimentos para a adequação às normas de segurança”, afirma a coordenadora do setor na Santa Casa BH.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, a Região Metropolitana de Belo Horizonte conta com 159 hospitais públicos e particulares. Destes, 51 projetos têm o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.
HISTÓRICO
Antes de obter o AVCB, a Santa Casa de BH foi cenário de três incêndios, sendo o último em junho de 2022. Segundo o CBMMG, as chamas começaram no Centro de Terapia Intensiva (CTI), no 10º andar, com a explosão de um dos equipamentos. O fogo se alastrou e levou à evacuação do prédio.
Durante a transferência de pacientes para outras unidades, três mortes foram confirmadas. Além dos óbitos, 25 funcionários foram internados e dois ficaram em estado grave. Todos eles atuavam na transferência dos pacientes internados no andar onde o incêndio começou e inalaram fumaça.
Em maio de 2016, os bombeiros foram acionados para incêndio que atingiu a área de engenharia clínica, manutenção de aparelhos e Centro de Estudos do hospital. Na época, o fogo causou prejuízo de pelo menos R$ 1 milhão, segundo a diretoria da Santa Casa, referente a 12 respiradores destruídos. Não houve vítimas.
Já em dezembro de 2012, um princípio de incêndio atingiu o fosso do elevador de roupas sujas do prédio principal da Santa Casa BH. Na época, a brigada do próprio hospital conseguiu debelar as chamas, mas os militares perceberam falhas na segurança da unidade e anunciaram uma vistoria para avaliar a estrutura.