Morre Antério Mânica, um dos mandantes da Chacina de Unaí
O fazendeiro e ex-prefeito de Unaí estava em coma no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília
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Siga noAntério Mânica, um dos mandantes da Chacina de Unaí, morreu aos 77 anos em Brasília, no Distrito Federal, na madrugada desta quinta-feira (15/5). Ele estava internado desde abril em coma induzido. Mânica, que era fazendeiro e já foi prefeito de Unaí, no Noroeste de Minas, e o irmão, Norberto, foram condenados como mandantes da chacina que matou três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho, em 2004.
O velório de Antério será realizado nesta sexta-feira (16/5) no Sindicato Rural de Unaí, no Parque de Exposições da cidade. O sepultamento está marcado para as 17h, no Cemitério Sindicato São Vicente de Paulo.
O ex-político ou por uma cirurgia de emergência em 9 de abril ao sofrer um traumatismo craniano causado por uma queda no quarto do hospital em que estava internado, em Brasília. A informação foi confirmada ao Estado de Minas por fontes ligadas à família de Antério.
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De acordo com familiares, com a queda no quarto do Hospital Sírio Libanês da capital federal, Mânica teve que colocar um dreno no crânio e ficou em coma induzido. Por um tempo, o estado de saúde dele foi considerado grave, mas estável.
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O ex-político e fazendeiro tratava um câncer de pâncreas e comorbidades associadas como diabetes e pressão alta.
Inocência alegada
Ouvido pela reportagem, o advogado Marcelo Leonardo, defensor do ex-prefeito de Unaí, lamentou a morte do cliente. Segundo ele, Antério foi "injustiçado" na condenação como mandante da chacina. O advogado voltou a argumentar que Mânica é inocente.
"Em todas as oportunidades em que foi ouvido, Antério Mânica declarou sua inocência, afirmando não ter tido nenhuma participação na chacina. Tenho pessoalmente convicção da inocência dele e considero uma absurda injustiça sua condenação. Ele sempre esteve à disposição do Poder Judiciário e sempre se apresentou espontaneamente, quando necessário", declarou o advogado.
Prisão domiciliar
O fazendeiro estava em prisão domiciliar desde novembro de 2024 depois que a Justiça o concedeu o benefício para tratamento de problemas de saúde. Um ano antes, em setembro de 2023, ele se entregou à Polícia Federal depois da determinação de prisão imediata pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No segundo julgamento do caso, em maio de 2022, Mânica foi condenado a uma pena de 64 anos de prisão como mandante da chacina. No primeiro, em novembro de 2015, ele havia sido condenado a 100 anos de prisão em júri popular.
O irmão dele, Norberto Mânica, também foi condenado a 64 anos de prisão e foi preso em janeiro deste ano em Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, depois de estar foragido. O STJ também determinou a prisão de José Alberto de Castro e Hugo Alves Pimenta, condenados pelo assassinato dos auditores fiscais.
Relembre o caso
Em 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva foram assassinados a tiros em uma emboscada quando investigavam condições análogas à escravidão na Zona Rural de Unaí, incluindo as propriedades da família Mânica. O motorista Ailton Pereira de Oliveira, que acompanhava o grupo, também foi morto.
Além de Antério e Norberto, outros condenados pelo crime foram Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro, Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e William Gomes de Miranda, que cumprem pena na prisão.
Antério foi citado como mandante do crime no segundo julgamento do caso, em 2022. Erinaldo de Vasconcelos Silva, um dos autores dos disparos, disse que, apesar de não ter contato direto com o ex-prefeito, soube que Mânica era o mandante por Chico Pinheiro, acusado de ser o contratante dos pistoleiros.
À época da primeira prisão dos acusados, o pistoleiro alega que os irmãos Mânica teriam oferecido R$ 300 mil para que ele e Wiliam, o outro executor do crime, assumissem a autoria do crime como um caso de latrocínio – roubo seguido de morte. Para desviar a atenção das autoridades no dia do assassinato, os autores do disparo chegaram, inclusive, a simular o roubo de pertences das vítimas.
Mesmo preso, eleito prefeito
Mesmo preso pela acusação de ser um dos mandantes das mortes dos quatro servidores do Ministério do Trabalho, assassinados em 28 de janeiro daquele mesmo ano, Mânica foi eleito prefeito de Unaí com 72% dos votos válidos. O político foi reeleito em 2008 e comandou a prefeitura da cidade do Noroeste do estado até 31 de dezembro de 2012.