Professora cria vaquinha para manter programa social
Joyce Gabrielly transforma histórias por meio do ensino musical. Mesmo sem espaço fixo e com recursos mínimos, ela mantém o projeto com muita resistência
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Siga noJoyce Gabrielly dos Santos (28), nasceu no Bairro Serra, em Belo Horizonte e cresceu no Regional do Ressaca, em Contagem, Região Metropolitana de BH. Hoje ela é professora de música, formada pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e graduanda na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Filha de um mecânico, com quem aprendeu os primeiros acordes, ela carrega uma missão: transformar vidas por meio da música. Desse desejo nasceu o Fá Lá Joy.
O projeto social oferece aulas gratuitas de música a pessoas que, assim como ela, começaram a vida com pouco, mas que sonham alto. A ideia surgiu durante a pandemia da Covid-19, em meio à dor de perder o padrinho para a doença, Joyce teve uma inspiração. Incentivada por uma professora universitária, ela começou a gravar vídeos musicais para confortar outras pessoas enlutadas. “A música foi uma cura para mim”, conta.
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A professora conta que o Fá Lá Joy está de portas abertas para qualquer pessoa, mas o foco dela é atender principalmente mulheres de todas as idades.“O conservatório (instituição educacional especializada no ensino de música), muitas vezes impõe limite de idade, e muitas mulheres que buscam recomeçar se veem fora dessas oportunidades. Meu projeto é para elas também”, diz.
Os relatos são comoventes. Uma adolescente que se automutilava, hoje chama Joyce de “tia” e frequenta as aulas com entusiasmo. Outra aluna, muito tímida e introspectiva, se soltou e descobriu em meio às aulas de música que quer estudar Direito. Uma menina vítima de abuso, que antes não saía do quarto, hoje canta, toca vários instrumentos. “Ela me disse que, quando está triste, a primeira coisa que faz é pegar o violino”, conta Joyce.
Antigamente, as aulas eram dadas em um estúdio, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte
De uma lanchonete a um estúdio e agora, as ruas
Joyce a levou a ideia do projeto social para uma disciplina de empreendedorismo que fazia na UFMG, do curso de istração. Os colegas de sala a ajudaram a transformar o desejo em realidade e, nesse momento, o Fá Lá Joy começou a ganhar forma.
Com apoio do padre da igreja local, começou a dar aulas no salão paroquial. Depois, transformou a lanchonete que montou na casa dos pais, no Bairro Vila Pérola, em Contagem, em um pequeno estúdio. Mas, em 2023, a casa foi vendida por motivos familiares e junto com ela, o estúdio.
Hoje em dia, a professora mora em Justinópolis, na Grande BH. Desde então, as aulas acontecem nas casas dos alunos, em bairros distantes entre si. Joyce gasta tempo, dinheiro e energia se deslocando.O desafio agora é o deslocamento: caro e cansativo. Joyce enfrenta sol, chuva e até riscos de segurança carregando flautas, violinos e uma viola clássica que comprou vendendo balas na rua.
Um projeto financiado com rifa, reciclagem e esperança
Sem patrocínio ou apoio governamental, Joyce vende rifas, roupas em brechós, recolhe recicláveis e conta com a colaboração dos próprios alunos. Alguns deles pagam R$ 120 por mês, valor que ela usa para agem e alimentação. Porém, a maioria deles não têm condições de pagar nada.
Ela também escreveu um livro para ajudar na arrecadação, o Fá Lá Black, um livro infantil que conta a história de uma menina que tem cabelo black power e que, a música foi a ferramenta fundamental para superar os preconceitos sofridos na escola. Ela também criou uma vaquinha online, que infelizmente não teve sucesso. Até o momento, só foram arrecadados 50 centavos.
Joyce escreveu um livro para conseguir arrecadações para o projeto
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A música como cura e identidade
Joyce acredita que o projeto precisa de um espaço físico não apenas por comodidade, mas por dignidade. “O espaço dá aos alunos uma identidade, um lugar seguro. Muitas mulheres têm rotinas pesadas, e a aula era o único momento delas. Indo à casa delas, não é a mesma coisa, reflete.
Como ajudar
Joyce acredita que o projeto precisa de um espaço físico não apenas por comodidade, mas por dignidade
Joyce planeja levar uma carta escrita à mão a comércios locais em busca de apoio. Mas também aceita doações, instrumentos usados, livros, roupas para brechós e qualquer tipo de divulgação. “Mesmo estudando fora no futuro, quero que o projeto continue. É mais do que música: é sobre dar um Norte para quem não via saída”, conclui.
Para doar para a vaquinha, e o link.
*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos