BH: polícia pede que vítimas de 'nudes' feitos por IA denunciem
Denúncias nas redes sociais apontam que alunos vêm usando inteligência artificial para criar imagens falsas de estudantes há mais de um ano
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Siga noDiante das várias denúncias de adolescentes expostas nas redes sociais por meio de montagens feitas com inteligência artificial, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) orientou que as possíveis vítimas procurem a Delegacia de Atos Infracionais, em Belo Horizonte. Os casos vieram à tona nessa terça-feira (3/6), quando uma influenciadora publicou um vídeo afirmando que um grupo de alunos do Colégio Santa Maria, no Bairro Floresta, criou fotos falsas de alunas da instituição seminuas e nuas. A delegacia está localizada na Rua Rio Grande do Sul, 661, no Bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
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De acordo com a delegada Larissa Mayerhofer, chefe da Divisão Especializada em Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente da PCMG, assim que alguns pais compareceram à unidade policial, uma ocorrência foi registrada. “De imediato, as investigações se iniciaram de forma sigilosa buscando preservar a integridade das pessoas envolvidas. Fica também o alerta para os pais que caso tomem conhecimento, através de seus filhos, de fatos semelhantes envolvendo uso indevido de suas imagens para que façam o devido acolhimento e compareçam à unidade policial”.
Divulgação indevida
A mãe de uma aluna da instituição, que preferiu não se identificar, contou em entrevista ao Estado de Minas que o assunto chegou ao grupo de pais e responsáveis pelos estudantes do colégio. “Parece que são fotos das meninas nuas. Eles pegam fotos do rosto delas nas redes sociais e colam, com inteligência artificial, em corpos nus”.
Em relatos divulgados nas redes sociais, algumas alunas afirmaram que as fotos alteradas foram compartilhadas em grupos da escola e em fóruns de um aplicativo de mensagens. No vídeo que expõe a situação, a influenciadora de BH, Ive Moreira, explicou como ocorre a divulgação das imagens falsas.
“Grupos foram criados tanto no Telegram quanto no WhatsApp e as fotos dessas meninas eram divulgadas ligadas ao nome e a pessoa delas, como alunas da escola, como pessoas que esses meninos conheceram no interior da escola e tem o no interior da escola”.
Além disso, a jovem afirma que as vítimas têm sido coagidas na escola e viram alvo de chacota. “Os meninos que fizeram isso (as fotos falsas) riem dessas meninas e andam atrás delas nos corredores. Essas meninas tem que apagar as fotos delas no Instagram, porque eles vão no perfil delas para pegar uma foto delas de roupa e transformar numa foto delas sem roupa”.
Para a mãe, que conversou com a reportagem, além de buscar os responsáveis, o colégio precisa investir na conscientização dos alunos. Ela afirmou ainda que, até o momento, a instituição não entrou em contato com as famílias para tratar do caso.
“Em conversa com a mãe de outras alunas, ela me disse que o colégio está buscando os culpados para puni-los. Mas eu acredito que seja necessário maior investimento na conscientização de todos, em um trabalho que una escola, família, alunos, polícia, conselho tutelar. Eles precisam ter consciência, sabe? São adolescentes”, disse a mulher.
O que disse o colégio
Em nota, o Colégio Santa Maria informou que, diante das denúncias, vem adotando medidas pedagógicas e jurídicas. A instituição afirmou que tem acolhido e escutado as vítimas e seus familiares, além de convocar o suposto autor e seus familiares para uma escuta. Também estuda aplicar medidas disciplinares conforme o Regimento da instituição e intensificar atividades formativas nas turmas do ensino médio sobre bullying e suas consequências jurídicas.
"O Colégio Santa Maria Minas lamenta o ocorrido e reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente escolar seguro, acolhedor e pautado pelo respeito mútuo. Todas as providências estão sendo tomadas com responsabilidade e transparência, em consonância com os valores institucionais e a legislação vigente. A instituição permanece à disposição das autoridades competentes e das famílias envolvidas para esclarecimentos e encaminhamentos necessários".
A nota também informa que o colégio desenvolve sistematicamente atividades educativas voltadas ao uso ético e responsável da tecnologia, incluindo medidas de prevenção e combate às diversas formas de violência que ameaçam crianças e adolescentes, tanto no mundo real quanto no ambiente digital. A instituição comunicará o Conselho Tutelar, o Ministério Público e a Delegacia de Crimes Cibernéticos sobre o ocorrido.
Segundo o professor Paulo Leite, do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino no Estado de Minas Gerais (Sinepe), até o momento o sindicato não foi acionado para prestar apoio no caso denunciado no Colégio Santa Maria. “Todavia, temos, sim, recebido de outros associados, solicitação de apoio e respaldo legal, pedagógico e istrativo em situações semelhantes. Infelizmente, está muito mais comum do que se imagina”.
Paulo explicou que o sindicato tem promovido orientações legais e pedagógicas por meio de cursos, capacitações em fóruns e seminários específicos, além de reuniões, programas, debates em redes sociais e projetos voltados à conscientização e integração.
“As tratativas para essas situações envolvem também aplicações referentes às consequências dessas ações junto aos próprios estudantes. A própria proibição do uso de celulares acaba dizendo respeito a situações assim também. Em eventos assim, a partir do entendimento e da revelação dos autores dessas ações, as instituições de ensino promovem desde acareações propositivas, ando por trabalhos de reeducação e conscientização dos envolvidos e, mesmo, se necessário, a suspensão e a expulsão de estudantes que venham a desenvolver essas atitudes”, explicou o professor.
Denúncia no Ministério Público
A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, apresentou denúncia ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) e enviou ofício à direção do Colégio Santa Maria Floresta, solicitando informações sobre o caso.
Na denúncia ao MPMG, a deputada solicitou "urgente apuração e responsabilização dos agentes pelo registro, divulgação e manipulação criminosa das imagens e proteção e acolhimento às alunas alvos desta exposição indevida e suas famílias, conforme proteção prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente".
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No ofício enviado à direção do Colégio Santa Maria, Beatriz Cerqueira questiona quais medidas a escola adotou para garantir a responsabilização pela produção, divulgação e compartilhamento das imagens; quais providências foram tomadas para acolher e proteger as alunas e seus familiares; e quais órgãos públicos competentes foram acionados para apurar os crimes denunciados.