editorial

A eterna imagem de Sebastião Salgado

Na mais de centena de países que visitou, o fotógrafo brasileiro revelou os extremos do planeta

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O fotógrafo Sebastião Salgado faz parte da galeria de brasileiros que, graças ao talento extraordinário e à dedicação profissional exemplar, transcendeu as fronteiras do país e encantou a humanidade com a força de seu ofício. Ao longo de mais de 50 anos, o mineiro de Aimorés retratou como poucos a realidade do mundo – por vezes, deslumbrante; outras vezes, estarrecedora. Sem nenhum exagero, Salgado se junta a Pelé, Ayrton Senna, Oscar Niemeyer, Tom Jobim e outros cuja genialidade ultraa a barreira do idioma e é capaz de deslumbrar qualquer habitante do planeta.


No caso de Salgado, as fotografias em preto e branco serviram, por décadas, como eloquente discurso para denunciar as injustiças sociais presentes em diversas partes do globo. Assim como Cartier-Bresson, Robert Capa e outros mestres, as imagens captadas pelas lentes deste brasileiro reforçam o ditado popular: valem mais do que mil palavras.


Como fotojornalista, Salgado é autor de flagrantes históricos, como o atentado ao presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981. Mas a exímia habilidade em retratar a condição humana o conduziu à produção de obras-primas, como as séries sobre Serra Pelada, ou Gênesis. A escolha do momento exato, a composição dos elementos, o eterno antagonismo entre luz e sombra, todos esses fatores levaram as fotografias de Salgado a um patamar sublime, equivalente à genialidade de Picasso ao pintar a guerra espanhola em Guernica ou ao universo surreal de Dali.


Além de inestimável valor estético, a obra de Sebastião Salgado expôs ao mundo uma mensagem poderosa – e atual. Na mais de centena de países que visitou, o fotógrafo brasileiro revelou os extremos do planeta. De um lado, trouxe a público cenários deslumbrantes da natureza, tesouros muitas vezes ignorados ou destruídos pela lógica econômica contrária à sustentabilidade. Do outro, denunciou a miséria a que são submetidos os excluídos da sociedade, seja por causa das guerras, seja por causa da cobiça que alimenta a busca pelo poder político ou pelo lucro incessante.


Paralelamente às imagens fantásticas que produziu, Sebastião Salgado deixa um legado poderoso a favor do meio ambiente. Um exemplo é o irável trabalho desenvolvido pelo Instituto Terra, fundado por ele e pela esposa Lélia, com o plantio de 2,7 milhões de árvores e a recuperação de 600 hectares de Mata Atlântica na região de Minas Gerais. Salgado também registrou para a posteridade uma defesa veemente dos trabalhadores sem-terra e dos povos originários, vítimas constantes dos conflitos agrários que por décadas contaminam o país.


Por força da coincidência, Sebastião Salgado morreu na semana em que o Senado Federal aprovou projeto de lei extremamente controverso sobre licenciamento ambiental, a ponto de ser tachado de “golpe de morte” pela ministra Marina Silva. Infelizmente, o fotógrafo não estará na COP 30, em Belém, para defender a sua dileta e tantas vezes retratada Amazônia. Mas é certo que as imagens reveladas por este brasileiro fora de série ainda terão muito a dizer àqueles que têm a responsabilidade de manter o planeta habitável.

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