Lula com MST: 'É preciso que se faça justiça pela reforma agrária'
Presidente assinou entrega de terras em assentamentos de 24 estados, em evento no Quilombo Campo Grande, no Sul do estado
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Siga noEm sua primeira visita a um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) neste mandato, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) focou seu discurso na defesa da reforma agrária e no preço dos alimentos. Ele ainda reiterou a ideia de apresentar resultados no biênio final de seu governo. Nesta sexta-feira (7/3), o presidente participou de um evento de entrega de propriedades a famílias assentadas, no Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, no Sul de Minas.
Em pronunciamento a milhares de integrantes do MST, Lula apresentou dados sobre a produção agrícola para consumo interno no Brasil. Em aceno aos membros do movimento, o petista criticou a concentração fundiária do país.
“As propriedades de até 100 hectares representam praticamente todo alimento que comemos no Brasil e representam apenas cerca de 14% da terra. É por isso que a luta pela reforma agrária ganha importância. Porque é preciso que se faça Justiça nesse país”, afirmou.
Lula voltou a bater na tecla que seus dois anos finais na presidência devem ser de “colheita de frutos” e fez cobrança aos seus ministros.
“Esse é o primeiro o que estamos dando. Em 2025, vamos colher tudo que preparamos em 2024 e 2023”, afirmou ele, após pedir à ministra do Planejamento, Esther Dweck, que coloque em prática a entrega de terras públicas levantadas por sua pasta na primeira metade da gestão.
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Lula esteve ao lado de Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário. A pasta é cotada como uma das que podem ar por mudanças em meio à reforma ministerial realizada pelo presidente no início de seu terceiro ano de mandato.
Com foco na produção agrícola familiar e na pauta da reforma agrária, a visita presidencial ao Sul de Minas acontece um dia após a decisão de zerar a alíquota de importação de alimentos básicos. Na quinta-feira (7/3), o vice presidente Geraldo Alckmin (PSB) anunciou o fim das taxas para compra de açúcar, azeite, biscoitos, café, carnes, massas, milho e óleo de girassol. A iniciativa tenta combater a alta do preço na alimentação, um dos fatores que inflam a rejeição ao governo.
Em seu discurso, Lula disse que está “muito preocupado” com o preço dos alimentos. Ao citar especificamente o ovo e o café, o presidente disse que está estudando as causas da carestia e afirmou que quer trabalhar junto aos produtores, mas questionou a ação de intermediários no caminho até o consumidor. O petista ainda afirmou que pode “tomar medidas mais drásticas” para reduzir os valores nos supermercados, mas não citou ações específicas.
Durante o evento, Lula anunciou a entrega de 12.297 lotes em 138 assentamentos, totalizando 385 mil hectares espalhados em 24 estados do país. A ação faz parte do escopo do programa “Terra da Gente”.
A cerimônia acontece de forma simbólica no Quilombo Campo Grande, um dos mais antigos e populosos acampamentos do MST no Brasil. A ocupação foi realizada em 1996, após a falência da usina de açúcar e álcool Ariadnópolis. Sem receber direitos trabalhistas, os funcionários da fábrica e da lavoura decidiram se manter no terreno, que hoje abriga 450 famílias.
Segundo o acampamento, o Quilombo Campo Grande hoje planta mandioca, feijão e hortaliças, mas a principal produção do agrupamento é o café, com mais de mais de 2,2 milhões de pés do fruto que é preparado e vendido sob a marca “Guaií”.
Retorno às bases
A primeira visita ao MST neste mandato acontece em momento-chave para o governo federal. As pesquisas de opinião mostram Lula, pela primeira vez, com rejeição maior que a aprovação, e o presidente organiza uma reforma ministerial para viabilizar a aprovação de projetos no Congresso Nacional. Para tanto, o Planalto rearranja as peças do primeiro biênio de gestão para dar mais espaço ao Centrão.
Por outro lado, Lula também realiza movimentos de aproximação à ala mais tradicional do PT e suas bases eleitorais mais fiéis. Essa manobra teve grande repercussão com a indicação de Gleisi Hoffmann, presidente do partido, para chefiar as Relações Institucionais do Planalto, à revelia da rejeição dos partidos aliados no Centrão ao nome da parlamentar e quadro histórico petista.
A visita ao MST e o anúncio de medidas relacionadas à reforma agrária segue na esteira de reencontro com as bases. Durante a agem pelo Sul de Minas, o chefe do Executivo esteve acompanhado de lideranças históricas do movimento, como João Pedro Stédile, e deputados petistas mineiros.
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Ao longo de seu discurso, Lula disse que, ao fim de seu período na presidência, seguirá no país ao lado de seus “amigos”, se referindo aos integrantes do MST. Durante a fala, ele relembrou das vigílias de militantes petistas em Curitiba no período em que esteve preso.