Quem sabe o que Lula vai fazer?
A próxima semana do presidente começará novamente em Minas Gerais: ele se reunirá com empresários e visitará as fábricas da Stellantis e da Gerdau
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Siga noO presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) veio a Minas Gerais pela primeira vez neste mandato em fevereiro de 2024. Demorou mais de um ano, mas chegou ao estado primordial para sua vitória eleitoral com uma enorme comitiva de ministros e anúncios importantes, o principal deles: a duplicação da BR-381. Quase exatamente um ano depois, o estado foi palco de outro momento inédito para o chamado “Lula 3”: visita a um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O petista foi cobrado a agir de forma mais incisiva pela reforma agrária e respondeu no Quilombo Campo Grande, no Sul do mapa mineiro, com a entrega de lotes para mais de 12 mil famílias em todo o Brasil. O ar de “estreia” das duas agens pelo estado é o que pouco se pode apontar de semelhança entre o momento vivido pelo petista em cada ocasião.
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Diferentemente do contexto de sua chegada a Belo Horizonte no ano ado, ainda marcada por um otimismo com o porvir, Lula hoje está acuado com o início de seu segundo biênio e a aproximação das eleições de 2026. E para piorar, mais um fato inédito (ou, no jargão “lulês”, “nunca antes na história desse país”): ele governa sob uma rejeição superior à aprovação.
Este é o cenário em que o presidente que mais tempo ficou à frente do cargo, por eleição direta, em todos os tempos na República brasileira precisa definir como lidar com a carestia dos alimentos, a abertura de espaço para o Centrão na Esplanada dos Ministérios e o aceno às bases eleitorais que já vêm se queixando mais do que de costume. Ao menos no início dessa jornada, a bússola presidencial ainda não parece ter encontrado um norte.
Uma reforma ministerial no meio de mandato é comum e o Centrão cobra um preço caro pela governabilidade do Executivo, Lula bem sabe. O presidente conta com vários partidos fisiológicos em sua base de apoio na Esplanada dos Ministérios, mas que não aderem às suas pautas integralmente no Congresso. Enquanto a dança das cadeiras vai se organizando de modo a abrir espaço para essas legendas e garantir viabilidade no Legislativo, a escolha de Gleisi Hoffmann para a pasta de Relações Institucionais torna a estratégia do Lula 3 difícil de ser compreendida.
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A conciliação é um inequívoco ponto forte de Lula, mas o momento político atual é diferente do de seus mandatos anteriores e o próprio fisiologismo político tem ganhado ares ideológicos. Os parlamentares fisiológicos se importam tanto com valores democráticos quanto um latifundiário poderia irar a luta dos sem terra. O que eles querem é se manter no poder e, se o bolsonarismo ou outra vertente da extrema direita se mostrar mais viável, o barco de Lula será abandonado sem o menor pudor.
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Neste ponto, talvez seja mais interessante voltar a tratar as alianças com o Centrão com o maior pragmatismo possível, apenas como instrumento para governar e entregar as promessas de campanha. Não há espaço para a ideia de uma aliança de partidos pela democracia como se decantou em 2022 e os parlamentares petistas querem emplacar ainda hoje. Os partidos que embarcaram nesta viagem com Lula estão sedentos por sua parte no combinado.
Lula precisa resolver seus problemas de governabilidade em Brasília enquanto freia a queda de sua aprovação mesmo em extratos historicamente petistas, como as classes sociais mais baixas e os estados do Nordeste. Neste ponto, a estratégia parece tão incipiente quanto a de seu xadrez ministerial.
No evento desta sexta-feira no MST, o presidente disse que está ‘tentando entender’ porque o ovo está caro e prometeu tomar atitudes drásticas se não conseguir a resposta. A carestia já cobra seu preço na reprovação do governo. E sinalizar que o Executivo ainda está na fase de encontrar respostas não é nada alvissareiro.
A próxima semana do presidente começará novamente em Minas Gerais, na terça, desta vez bem distante do clima de um acampamento do MST: ele se reunirá com empresários e visitará as fábricas da Stellantis e da Gerdau. O histórico de negociação política de Lula deve ser respeitado e exige paciência para se ter um prognóstico de como ele terminará seu mandato, mas, por ora, o governo parece desorientado.
Desigualdade salarial
As mulheres são minoria em cargos comissionados com remuneração acima de R$ 10 mil no serviço público em Minas Gerais. Esse foi o resultado de um estudo realizado pelo Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG) com objetivo de avaliar a participação feminina em cargos de gestão e assessoramento no governo estadual e em prefeituras mineiras. De acordo com o levantamento, enquanto as mulheres são maioria (70%) nos cargos de recrutamento amplo, com salários de até R$ 5 mil, são minoria nos acima de R$ 10 mil (42%) e de R$ 20 mil (44%). Nas prefeituras, o cenário se repete. Nos cargos de livre nomeação com remuneração de até R$ 5 mil, 57% são mulheres. Já nos cargos com salários acima de R$ 10 mil, apenas 43% são ocupados por elas. (Alessandra Mello)
Remuneração baixa
A realidade é ainda mais destoante no recrutamento , cargos em comissão que são ocupados apenas por servidores concursados. No governo estadual, 58% são mulheres, quando a remuneração é de até R$ 5 mil. Nos cargos com salários acima de R$ 10 mil, apenas 33% são ocupados por mulheres. Nas prefeituras, elas estão em 65% dos cargos de até R$ 5mil, ocupando apenas 23% daqueles com vencimentos acima de R$ 20 mil. O diretor de Inteligência do TCE, Pedro Henrique Azevedo, analisa: “Embora o ingresso na istração pública se dê de forma neutra, por meio de concurso, independentemente do gênero, é fato que, uma vez empossados, os homens ainda tendem a ocupar, em maior número, os cargos de gestão, no caso do recrutamento . A mesma desigualdade foi observada nos casos de recrutamento amplo”. (AM)
a de pressão
“Política é como feijão, só cozinha na pressão”, afirmou o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, em cerimônia, nesta sexta-feira (7/3), no acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, no Sul de Minas. A frase é de Frei Betto, teólogo e escritor mineiro. Teixeira agradeceu a pressão que os movimentos em defesa da reforma agrária têm feito sobre o governo federal e atribuiu a eles o anúncio de ações e investimentos na área. E botou pressão na bancada federal mineira para obter mais recursos para incrementar o orçamento do MDA. No ato, ele pediu ajuda aos deputados mineiros para aumentar o orçamento da pasta e garantir mais investimentos no setor. (AM)
Câmara aprecia vetos da PBH
A Câmara Municipal de Belo Horizonte teve trabalho após o recesso de carnaval. Nesta sexta-feira (7/3), os vereadores se reuniram para apreciar quatro vetos do prefeito Fuad Noman (PSD). De um total de quatro negativas do chefe do Executivo, apenas uma foi derrubada pelos parlamentares. Trata-se do veto total ao PL 919/2024, do vereador Irlan Melo (Republicanos), que propõe desafetação e alienação de uma área remanescente entre as Ruas das Canoas e Ismar Rodrigues, no Bairro Estrela do Oriente. O projeto foi alvo de objeto de acordo com a base da prefeitura para a derrubada do veto. (Bruno Nogueira)