Câncer de colo de útero: desafio para os governos
Debate entre especialistas expôs a fragilidade dos sistemas de saúde no cuidado com a mulher
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Siga no“Não podemos aceitar que uma enfermidade prevenível (o câncer de colo de útero) possa continuar matando mulheres.” A frase, dita por Álvaro Soto, gerente-geral do laboratório Roche Caribe, Centro América e Venezuela (CCAV), foi tema de debates durante o evento Mulher, Saúde e Equidade, realizado na Cidade do Panamá, em novembro último. No encontro, estiveram presentes médicos, especialistas em saúde e jornalistas de vários países da América Latina.
As discussões serviram para traçar um panorama da saúde da mulher latinoamericana, numa tentativa de apontar as doenças e condições mais prevalentes que afetam o sexo feminino.
Essa preocupação faz sentido. O câncer de colo do útero, por exemplo, é a terceira principal causa de morte entre mulheres na América Latina e no Caribe. Apesar de ser evitável, a doença mata 35,7 mil mulheres a cada ano nas Américas - a maioria (80%) desses casos ocorre na América Latina e no Caribe, segundo a Organização Panamericana da Saúde (Opas).
As taxas de mortalidade - três vezes mais altas na América Latina e no Caribe do que na América do Norte - destacam as desigualdades existentes em termos de renda, gênero e o aos serviços de saúde. Infelizmente, as estimativas para 2030 são ainda mais assustadoras. As mortes por câncer de colo do útero podem chegar a 51,5 mil em decorrência do crescimento da população e aumento da expectativa de vida. Deste total, 89% das mortes serão na América Latina e no Caribe.
Somente no ano ado, o Brasil registrou 17 mil novos casos, sendo que esse tipo de câncer é totalmente evitável, principalmente se as mulheres forem vacinadas contra o HPV (papilomavírus humano). Para Lorice Scalise, presidente da divisão Roche Brasil, os dados mostram que a saúde da mulher é sempre deixada de lado por um sistema de saúde que não funciona.
Para Lorice, essa situação é causada por uma série de fatores que envolve a falta de o a informações, medicamentos e tratamentos; um sistema de saúde em que o público e o privado não dialogam; e a disparidade entre as regiões do Brasil, com destaque para o Sul e o Sudeste, que centralizam a prestação de serviços médicos. “Muitas vezes, uma mulher é obrigada a viajar até 600 quilômetros para se submeter a uma quimioterapia”, comenta.
UNANIMIDADE
As autoridades latino-americanas presentes no evento também são unânimes em dizer que as desigualdades de gênero são ignoradas tanto pelos governos quanto pela sociedade. “As soluções am por questões educativas e socioculturais, além de um encaminhamento mais rápido da doença para tratamento. É importante a atualização dos sistemas de saúde para que as mulheres possam ter um diagnóstico ágil, tendo a favor a ajuda da tecnologia”, ressalta.
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É fundamental a sensibilização de milhares de mulheres, que estão sofrendo e morrendo por desconhecimento, acrescenta Olga Georgina Martínez Montañez, representante do ISS do México. “Precisamos atuar antes que as enfermidades atuem. É inaceitável que os governos dos países latino-americanos não se sensibilizem com a saúde da mulher.”
Vale lembrar que a vacina contra HPV sofreu muito preconceito quando de seu lançamento, como se seu uso fosse uma iniciação precoce da vida sexual.
No Brasil, a vacina é distribuída gratuitamente pelo SUS a meninas e meninos de 9 a 14 anos (14 anos, 11 meses e 29 dias); homens e mulheres transplantados; pacientes oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia, pessoas vivendo com HIV/Aids e vítimas de violência sexual.