Thais Szegö
Testes in vitro indicam que o canabidiol pode estimular a biomineralização dos dentes mesmo em condições inflamatórias, auxiliando assim na reparação dos tecidos.
A pesquisa foi conduzida com apoio da FAPESP na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Forp-USP). Os resultados estão publicados no Journal of Dentistry.
No experimento, células da polpa dentária de camundongos foram expostas a uma citocina denominada fator de necrose tumoral alfa (TNF-), envolvida em diversos processos inflamatórios e autoimunes. Em seguida, tratadas com diferentes concentrações de canabidiol por períodos que variavam entre 24 horas e sete dias.
“A capacidade de as células sobreviverem e funcionarem nesse ambiente foi avaliada, o que permitiu determinar se a substância tem algum efeito bioativo sobre elas”, explica Francisco Wanderley Garcia de Paula-Silva, professor do Departamento de Clínica Infantil da instituição, que coordenou o trabalho. O estudo contou com a colaboração das pesquisadoras Elaine Del Bel e Glauce Crivelaro do Nascimento Marangoni, ambas do laboratório de Neurofisiologia Molecular da Forp-USP.
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Paralelamente a isso, os macrófagos, importantes células do sistema imune, foram pré-estimulados com lipopolissacarídeo bacteriano (LPS) – um componente tóxico da parede celular de bactérias Gram-negativas – antes de serem expostos à substância extraída da Cannabis sativa. Esse teste buscou avaliar o efeito do canabidiol na modulação da síntese de mediadores inflamatórios pelos macrófagos.
Os resultados indicam que o tratamento com o canabidiol foi capaz de inibir a síntese dos mediadores inflamatórios, sugerindo um efeito anti-inflamatório especialmente após o período de 24 horas. Além disso, a substância estimulou a capacidade de biomineralização dentária.
“Esses achados sugerem que o canabidiol pode ser uma substância bioativa promissora para reparação tecidual em contextos inflamatórios, o que abre novas perspectivas para seu uso em tratamentos odontológicos, em especial na odontologia regenerativa, beneficiando pacientes em diversas situações clínicas”, afirma Paula-Silva.
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Para isso, é fundamental fazer estudos clínicos para avaliar a eficácia e a segurança em humanos. Não apenas para confirmar os efeitos observados, mas também para entender como essa substância se comporta em diferentes situações clínicas, incluindo dosagem, formas de istração e potenciais interações com outros tratamentos.
Além disso, a implementação de novos tratamentos na prática clínica deve cumprir requisitos regulatórios que envolvem avaliações independentes, revisões por comitês de ética e aprovações de órgãos reguladores de saúde. “O crescente interesse em terapias baseadas em canabinoides, aliado a uma compreensão mais profunda dos mecanismos de ação do canabidiol, pode facilitar a realização de futuros ensaios clínicos, especialmente à medida que mais dados se tornarem disponíveis”, diz Paula-Silva.