DISFUNÇÃO METABÓLICA

Brasileiros temem gordura no fígado, mas desconhecem formas de diagnóstico

A esteatose hepática ainda é um tema pouco compreendido por grande parcela dos brasileiros

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O diagnóstico de gordura no fígado significaria, para 62% da população brasileira, um cenário de muita ou extrema preocupação, segundo levantamento do Instituto Datafolha. A esteatose hepática, mais conhecida como “gordura no fígado”, é uma doença crônica e silenciosa que pode ter sérias consequências. O estudo, realizado em parceria com a farmacêutica Novo Nordisk, também revela uma grande lacuna no conhecimento da população sobre a doença e suas formas de diagnóstico.

Embora a maioria dos entrevistados declare preocupação com um eventual diagnóstico, apenas 19% reconhecem o nome técnico da condição. Cerca de 44% dos brasileiros não conhecem nenhum termo médico para se referir ao acúmulo de gordura no fígado. O desconhecimento é ainda maior quando se trata de termos médicos mais específicos: apenas 11% já ouviram falar de “esteato-hepatite”, 8% sabem o que é “fibrose”, e menos de 2% conhecem siglas como MASH ou NASH, ligadas a tipos mais graves da doença.

Entre os 2.013 brasileiros ouvidos entre 11 e 13 de fevereiro, com idade média de 43 anos, uma parcela significativa também demonstrou falta de conhecimento sobre como identificar a doença. Enquanto 52% citaram exames de sangue como caminho para o diagnóstico, apenas 28% mencionaram exames de imagem.

A esteatose hepática atinge cerca de 30% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), e pode desencadear doenças cardiovasculares, cirrose e, em casos extremos, levar à necessidade de transplante de fígado. Em 2023, o Brasil realizou mais de 2.300 transplantes hepáticos.

Fatores de risco

A principal causa da doença atualmente está ligada à chamada esteatose hepática associada à disfunção metabólica — condição em que o acúmulo de gordura no fígado está relacionado a problemas como obesidade e diabetes. “São fatores que, juntos, aumentam significativamente o risco de comprometimento hepático”, explica, em entrevista para a Folha de São Paulo, Cristiane Villela, professora titular da Clínica Médica e Hepatologia da UFRJ.

De fato, a pesquisa indica que 66% dos entrevistados estão com sobrepeso ou obesidade, número que se aproxima do levantamento da Federação Mundial da Obesidade, que aponta que 68% dos adultos brasileiros têm o IMC acima do ideal. Entre os principais problemas de saúde relatados estão hipertensão/pressão alta (22%), problemas nos ossos (17%), sobrepeso/obesidade (15%) e colesterol alto (12%).

O consumo de álcool também aparece como um fator preocupante: pouco mais da metade dos brasileiros, 55%, consome bebidas alcoólicas - prática mais comum entre pessoas com sobrepeso. Uma pesquisa destaca que o percentual de consumidores é maior entre aqueles com IMC acima de 25, assim como o percentual que consome semanalmente: 28% no grupo com sobrepeso e obesidade contra 24% no grupo sem sobrepeso.

Para mais da metade dos entrevistados, o excesso de peso é o principal fator associado ao acúmulo de gordura no fígado (58%), seguido pelo álcool (46%), sedentarismo (43%) e níveis elevados de colesterol ou triglicérides (28%).

Apesar disso, ainda há mitos sobre os tratamentos. De acordo com o Datafolha, 14% acreditam que chás podem tratar a condição, 5% confiam em suplementos vitamínicos e outros 5% mencionaram fitoterápicos. “Isso é alarmante”, alerta Cristiane. “Algumas substâncias naturais podem ser tóxicas ao fígado e agravar ainda mais o quadro. O tratamento precisa ter base científica.”

Segundo a professora, o tratamento depende principalmente de mudanças no estilo de vida, como alimentação balanceada e prática regular de atividades físicas. “Não existe remédio milagroso. O que faz diferença é a adesão do paciente ao tratamento e sua conscientização sobre a doença”, destaca. 

O que é a esteatose hepática 

A esteatose hepática é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado. Em pequenas quantidades, essa gordura é normal. No entanto, quando ultraa 5% do volume do órgão, já é considerada uma condição anormal e pode evoluir para inflamações, cirrose ou até câncer.

De acordo com o cirurgião gastrointestinal Lucas Nacif, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), casos entre jovens têm se tornado cada vez mais comuns. “É reflexo de uma alimentação desequilibrada e do sedentarismo. A doença, antes associada a adultos, agora atinge adolescentes com frequência preocupante”, afirma.

Estudo recente da Associação Americana para o Estudo das Doenças do Fígado indica que a América do Sul é a região do mundo com maior crescimento de casos de esteatose hepática entre adolescentes nos últimos 29 anos.

O fígado exerce funções essenciais, como o armazenamento de vitaminas e minerais, produção de bile, regulação da glicose e do colesterol e eliminação de toxinas. Por isso, qualquer alteração significativa pode comprometer o equilíbrio do organismo.

Como identificar e prevenir 

Os sinais da doença variam conforme o grau de comprometimento do órgão. A condição pode ser dividida em três estágios: leve, moderado e acentuado. Nos estágios iniciais, os sintomas geralmente não se manifestam. Em casos mais avançados, pode haver cansaço excessivo, pele e olhos amarelados (icterícia), acúmulo de líquido no abdômen (ascite) e até sangramentos. 

O diagnóstico é feito por exames como ultrassonografia abdominal, testes de função hepática (TGO, TGP, Gama GT) e, em casos mais graves, biópsia hepática.

Para prevenir, os especialistas recomendam manter o peso adequado, adotar uma alimentação saudável — rica em vegetais, frutas e grãos integrais — e praticar atividades físicas regularmente. Evitar álcool e reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados também são medidas importantes.

“O fígado é um dos órgãos mais resilientes do corpo humano, mas quando entra em sofrimento, os danos podem ser irreversíveis”, reforça Lucas. 

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