História da companhia de dança afro Baobá Minas é contada em livro
Obra escrita pela bailarina e coreógrafa Junia Bertolino será lançada nesta terça (8/4), em evento gratuito com apresentação do grupo e de convidados
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Siga noCriada há 24 anos pela dançarina, antropóloga e jornalista Junia Bertolino, a companhia de dança afro Baobá Minas tem uma história que se entrelaça com a de diversos outros grupos e artistas que trabalham com expressões de matriz africana em Belo Horizonte.
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Esse percurso e essas conexões são resgatados no livro “Performance, ancestralidade e ritualidade: Corporeidades negras da Cia. Baobá Minas”, escrito pela diretora e coreógrafa do grupo, além de fundadora, que será lançado nesta terça-feira (8/4), às 19h, no Teatro Marília.
A performance “Saudação à ancestralidade”, mais recente trabalho da Cia. Baobá Minas, será apresentada na ocasião, como parte da programação do projeto Terça da Dança.
O evento vai contar, ainda, com a presença de mestres da cultura popular e grupos, como a Associação Odum Orixá, a Cia. Primitiva de Arte Negra e Carlos Afro & Cia. Junia destaca que será um momento marcante para a Cia. Baobá Minas, pela possibilidade de partilha com pares que fizeram parte de sua história.
Ela diz que a inspiração primeira para a feitura de “Performance, ancestralidade e ritualidade” foi Marlene Silva (1937-2020), pioneira da dança afro em Minas Gerais.
“Estive com ela em alguns espetáculos e essa convivência sempre me motivou a querer saber sobre as origens da dança afro, entender as temáticas relacionadas à nossa memória, nossa ancestralidade, porque só assim podemos contar nós mesmos a nossa história”, diz.
Cenário difícil
Junia observa que, ao contar a trajetória da Cia. Baobá Minas, o livro revela a luta do movimento negro no âmbito das artes ao longo das últimas duas décadas. Ela destaca que, com 24 anos de atuação no cenário local, seu grupo ainda não tem uma sede própria. “É uma dificuldade para se manter. De tempos em tempos, buscamos parcerias para ter onde ensaiar”, comenta.
“Performance, ancestralidade e ritualidade” focaliza outras companhias e artistas independentes na mesma situação e também analisa criações da Baobá Minas. “Entre 2009 e 2010, apresentamos os espetáculos 'Ancestralidade: Herança do corpo' e 'Quebrando o silêncio', com direção musical do Mamour Bá. Eles propõem uma narrativa”, relembra Junia.
“Em 2010, fiz uma pós-graduação em Estudos Africanos e Afro-brasileiros na PUC Minas e analisei, por meio desses dois espetáculos, questões que trazem conceitos de ancestralidade, tradição oral e memória”, acrescenta ela, ressaltando a importância de se levar as expressões artísticas afro para o âmbito da academia.
O livro joga luz também sobre nomes como Evandro os, João Bosco, Carlos Afro, Willian Silva e Ronaldo Thiago. Todos os grupos e artistas ligados à história da Cia. Baobá Minas são convidados para o lançamento do livro e devem participar de uma roda de conversa e apresentar performances. “Teremos números de dança, porque não basta falar, temos que mostrar essa corporeidade negra de que o livro trata”, observa.
Nova geração
A Cia. Baobá Minas também mantém um diálogo próximo com a nova geração da dança afro e de expressões congêneres em Belo Horizonte, segundo Junia. Ela cita nomes como Jarbas Mateus, Rodrigo Antero, Marilena Rodrigues, Flávia Soares, Suelen Sampaio e sua filha, Dandara Bertolino.
A autora de “Performance, ancestralidade e ritualidade” diz que, além de sua vivência, buscou em obras como “Dança afro-brasileira: identidade e ressignificação negra”, de Evandro os, referências para escrever seu livro.
Sobre a performance que a Cia. Baobá Minas apresenta durante o lançamento, ela diz que vem sendo construída desde o ano ado e que trata da relação do homem com a natureza.
“Represento uma cabocla que tem na cabeça, em vez de um penacho, uma espécie de cocar de folhas, para trazer um pouco essa coisa da ligação da cultura indígena com a cultura negra. Faço a 'dança guerreira', incluindo elementos do congo e do maculelê, e me utilizo do poema 'Vozes mulheres', de Conceição Evaristo”, conta.
REFERÊNCIAS IMPORTANTES
Junia Bertolino diz que para conduzir a Cia. Baobá Minas ao longo de 24 anos e para escrever “Performance, ancestralidade e ritualidade” se espelhou e se deixou guiar por referências da arte de matriz africana em Minas e em outros estados. Rui Moreira, Ricardo Aleixo e Gil Amâncio, que, juntos, criaram a Cia. Seráquê?, muito atuante na cena local nos anos 1990 e 2000, são algumas delas, conforme aponta.
“Também trago referências de nomes como Amélia Conrado, da Universidade Federal da Bahia; Inacira Falcão, que escreveu o livro “Corpo e ancestralidade” e traça um paralelo entre as danças no Brasil e na Nigéria; e o próprio Balé Folclórico da Bahia, que é a grande companhia de dança negra no Brasil e vem resistindo ao longo do tempo”, afirma ela.
“PERFORMANCE, ANCESTRALIDADE E RITUALIDADE: CORPOREIDADES NEGRAS DA CIA. BAOBÁ MINAS”
Lançamento do livro de Junia Bertolino e apresentação da performance “Saudação à ancestralidade”, da Cia Baobá Minas, com participação de grupos e mestres convidados, nesta terça-feira (8/4), às 19h, no Teatro Marília (Av. Professor Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia). Entrada gratuita, com retirada dos ingressos pela plataforma Sympla ou na bilheteria do teatro.