Filme 'Sobreviventes' ganha sessão especial hoje no Cine UNA Belas Artes
Com o mineiro Paulo Azevedo no elenco, longa de José Barahona, em cartaz nesta quinta (14/4) em BH, questiona a história oficial do colonialismo português
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Siga noMeados do século 19. Portugal vive momento conturbado, com crises políticas, guerras, perda de colônias e transformações sociais. No entanto, ainda mantém vivo o orgulho do ado de conquistas e glórias. A estrutura social é a mesma de sempre: nobreza e clero concentrando poder no alto da pirâmide social, cuja base é composta por escravizados e ex-cativos.
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Um navio negreiro naufraga diante de ilha deserta. Nesta nova terra, sem lei e estrutura social, um dilema se impõe aos sobreviventes: eles devem reproduzir as hierarquias do ado ou construir uma nova sociedade?
Esse é o cerne de “Sobreviventes”, filme do português José Barahona que estreia no circuito comercial na semana que vem e terá exibição especial nesta quinta-feira (10/4), no Cine UNA Belas Artes, em BH. Depois da sessão das 20h20, haverá bate-papo com elenco.
“O Zé (diretor José Barahona) sempre teve relação íntima com o Brasil e sempre se questionou sobre o ado de 'glórias' de Portugal”, diz a produtora Carol Dias, companheira do cineasta, que morreu aos 55 anos, em 2024.
“Ele também gostava de pensar no outro lado dessas ‘glórias’. A outra versão da história, aquela não contada oficialmente. Nisso ele teve a ideia do naufrágio, com negros e brancos escolhendo entre reproduzir comportamentos do ado ou criar nova estrutura”, afirma.
José Barahona havia abordado algo semelhante no filme “O manuscrito perdido” (2010), que mistura realidade e ficção para refletir sobre a colonização portuguesa, as origens da sociedade brasileira e a luta pela terra.
Em “Sobreviventes”, o cineasta também transita entre realidade e ficção, mas pesando um pouco mais a mão na segunda. Preocupou-se em apresentar o ponto de vista dos africanos, chamando o escritor angolano José Eduardo Agualusa para dividir o roteiro com ele.
Os primeiros esboços foram feitos em 2016, mas o filme só foi rodado em 2024.
“A gente foi com o roteiro para o set, mas saímos com outro filme”, brinca o ator mineiro Paulo Azevedo, que trabalhou com o cineasta e com Carol Dias em “Alma clandestina” (2018).
Paulo interpreta Padre Angelim, franciscano português de ado obscuro que veio para o Brasil muito jovem. “Saímos com outro filme no sentido de termos mais camadas a partir do que cada ator e cada pessoa da equipe trouxe para dentro da história. Sempre houve a preocupação de não termos aqueles arquétipos bem estabelecidos do bonzinho e do malvado”, explica ele.
O complexo Padre Angelim não é uma pessoa boa. Covarde, usa o hábito franciscano para esconder isso. “É o tipo que a gente vê muito hoje em dia nas posições de poder. Tem governantes que estão aí com empáfia e ações ditatoriais, mas se você olhar no fundo do olho deste cara, vai ver pânico e medo muito grandes”, destaca Azevedo.
“Sobreviventes” é o último filme de José Barahona. Ele morreu em novembro ado em decorrência de “doença prolongada”, conforme foi informado à época. Além de “O manuscrito perdido” e “Alma clandestina”, Barahona dirigiu “Estive em Lisboa e lembrei de você” (2015), adaptação do livro homônimo do mineiro Luiz Ruffato.
“SOBREVIVENTES”
Brasil/Portugal, 2024, 111min. De José Barahona, com Paulo Azevedo, Miguel Damião, Allex Miranda e Roberto Bomtempo. Pré-estreia nesta quinta-feira (10/4), às 20h20, no Cine UNA Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes). Após a sessão, bate-papo com Paulo Azevedo e Daniel Ribeiro Duarte. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e no site Velox Tickets.