Chico Buarque pode ter alta na quinta ou sexta-feira (5 e 6/6) crédito: Leo Aversa/divulgação
Chico Buarque teve um “desequilíbrio sutil”, mas está “ótimo”, afirmou o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho ao comentar o estado de saúde do cantor, compositor e escritor, de 80 anos, que foi submetido a cirurgia cerebral no hospital carioca Copa Star, na terça-feira (3/6).
O médico explicou os detalhes da operação e garantiu que Chico tem boa recuperação. “Ele está muito bem. Ótimo”, declarou Niemeyer em entrevista ao jornal O Globo.
“Disse para ele que, em breve, estará lá no Polytheama, que é o time dele”, afirmou o médico ao jornal Folha de S. Paulo, referindo-se ao grupo com o qual músico joga futebol todas as semanas.
Chico Buarque saiu da cama e anda pelo quarto normalmente. A alimentação é livre, sem restrições. Visitas se limitam a familiares mais próximos, como a mulher e os filhos. “Prefiro que ele amplie as visitas só quando voltar para casa”, afirmou Niemeyer, que está entre os neurocirurgiões mais respeitados do Brasil.
A alta pode ocorrer nesta quinta (5/6) ou na sexta-feira (6/6).
A hidrocefalia de pressão normal, problema de saúde enfrentado pelo cantor e compositor, foi causado pelo acúmulo de líquido nos ventrículos cerebrais, o que aumenta a pressão dentro do crânio. A solução cirúrgica envolveu implantação de válvula no centro do cérebro, conectada ao cateter que desce por baixo da pele até a barriga.
“Quando a pressão aumenta, a válvula abre, drena o excesso de líquido, ele vai para a corrente sanguínea e sai pela urina” explicou Niemeyer.
Neurocirurgião respeitado, Paulo Niemeyer Filho integra a Academia Brasileira de Letras e é sobrinho do arquiteto Oscar Niemeyer Reprodução
O sintoma que levou à investigação médica foi um leve desequilíbrio. “Ele teve um desequilíbrio sutil, normal nessa idade. Poderia perfeitamente seguir a vida com isso. Tem gente que não quer se submeter à cirurgia e prefere, com o ar do tempo, andar com bengala, por exemplo. O implante da válvula é para melhorar totalmente a qualidade de vida do paciente”, detalhou o cirurgião.
Apesar de a técnica cirúrgica ser a mesma ao longo dos anos, os equipamentos evoluíram. “As válvulas estão mais sofisticadas. Antes, tinham pressão fixa e eventualmente precisavam ser trocadas. Agora são regulares. Importante falar que nenhum dispositivo fica aparente no corpo”, esclareceu.
O problema que levou Chico ao hospital é comum a partir dos 70 anos. Niemeyer disse que ele pode trazer desequilíbrios e dificuldade de mudar de posição, como sentar, levantar e se virar, além de alterações no padrão de caminhada.
Niemeyer contou que o cantor e compositor já investigava os sintomas há algum tempo. “Mas não se chegava muito a uma conclusão. Até que a hidrocefalia apareceu e a gente achou que tinha que tratar”, detalhou.
Moeda fina
A válvula implantada no cérebro de Chico se parece com “uma moeda fina”, comparou Niemeyer. “A gente pode, pelo lado de fora, com ímã, abrir ou fechar conforme a necessidade do paciente. Isso reestabelece a fisiologia cerebral e ele tem grande chance de ficar muito bem”, observou.
A técnica está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). “O que pode variar é a marca, a qualidade da válvula”, explicou Niemeyer.
Imortal da ABL
Sobrinho do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, de 73 anos, é membro da Academia Brasileira de Letras e autor do livro “No labirinto do cérebro”. Em 2022, sucedeu a Alfredo Bosi na cadeira número 12, morto em 2021 devido à COVID-19.
“Serei o primeiro médico a assumir a cadeira que foi ocupada por intelectuais de diversas áreas: escritores, jornalistas, poetas, homens públicos, representante do clero e da vida acadêmica. Todos a abrilhantaram. Os médicos sempre estiveram presentes na ABL, desde a sua fundação”, destacou ele ao tomar posse.