VINICULTURA

"Vinho de inverno" faz sucesso no Norte de Minas e atrai turistas

Produtores de cidade aos pés da Serra do Espinhaço investem em técnica de dupla poda para colher safras de junho a agosto

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O mercado brasileiro de vinhos vem crescendo nos últimos anos e para atender a uma demanda maior e mais exigente pela qualidade, produtores de diversos lugares do Brasil, inclusive de Minas Gerais, apostam na produção dos chamados vinhos finos, que são os de maior qualidade. Para abastecer esse mercado, o segmento tem usado a técnica da dupla poda, que consiste em realizar dois cortes nas videiras durante o ano, para garantir uma colheita também entre junho e agosto, ao invés de apenas no período tradicional de janeiro a março. A safra produzida nesse sistema ganhou o apelido de “vinho de inverno”.

Minas Gerais é responsável por 51% do plantio da uva para esse tipo específico de bebida, com produção de 1 milhão de garrafas de vinho de inverno anualmente, segundo a Associação Nacional dos Produtores de Vinho de Inverno (Anprovin), que tem 51 vinícolas associadas, em seis estados.

Técnicas adequadas de manejo e irrigação de vinhedos na Serra do Espinhaço têm ajudado produtores a superarem desafios do semiárido
Técnicas adequadas de manejo e irrigação de vinhedos na Serra do Espinhaço têm ajudado produtores a superarem desafios do semiárido Diego Vargas/Seapa MG/Divulgação

“No cultivo tradicional aqui na Região Sudeste, a gente precisa podar, para induzir a produção, normalmente na saída do inverno, que é ali em agosto. Podando em agosto, colhe a uva normalmente em dezembro, janeiro ou fevereiro. Só que nesse período chove muito. Isso gera uma uva de baixa qualidade para um vinho. No início dos anos 2000, vieram esses testes de dupla poda, para transferir a maturação e colheita para condições mais favoráveis, já que nosso inverno é seco e não tão intenso quanto no Sul do país”, explica o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Francisco Câmara.

Apesar das produções nacionais mais famosas serem do Rio Grande do Sul, Minas vem ganhando espaço, principalmente nos municípios de Andradas, Caldas e Três Pontas, mas uma cidade fora dessa região tem chamado a atenção. Grão Mogol, na Região Norte, aos pés da Serra do Espinhaço, já contava com uma produção de frutas, inclusive uva, majoritariamente destinada para o consumo in natura ou para os chamados vinhos de mesa, aqueles de menor qualidade.

O município, localizado no semiárido, fez uso do desenvolvimento de técnicas, manejo adequado e irrigação para superar esses problemas e iniciar uma produção. A região conta apenas com uma vinícula, a Vale do Gongo, mas há produtores fazendo testes de plantio, mas que, por enquanto, não produzem para vender.

“Havia a ideia de que o vinho bom só poderia ser produzido no paralelo 30 a 33, que está ali em regiões de clima temperado. Em regiões áridas, como a nossa, não produziria vinhos de qualidade. De certa forma, é uma verdade, porém, nessa porção da Cordilheira do Espinhaço, nós temos um clima diferenciado. Temos condições extremas de baixo índice pluviométrico, uma seca de quase oito meses e amplitude térmica, com frio durante a noite”, explica Alexandre Damasceno, técnico agrícola, professor da Universidade Estadual de Montes Claros (UniMontes), e um dos sócios da Vale do Gongo, junto do seu irmão, Gésio Damasceno, e de Guilherme Saege.

Adaptação ao clima

Foi na região que a uva merlot, originária da região de Bordeaux, na França, se adaptou e ou a produzir quase sete quilos por planta, segundo Damasceno. O resultado, junto ao de outras espécies de frutas, fez com que a vinícola diversificasse seus vinhos, produzindo espumantes, brancos e tintos, entre outros. O desempenho da produção iniciada em 2017, que hoje planta 22 variedades, vem sendo reconhecido por especialistas e se destaca em concursos nacionais de vinhos, como o 3º Concurso Brasileiro de Vinhos de Mesa 2025, no qual conquistou a Medalha de Prata.

“Era uma fazenda para produção de fruta e nós começamos a moldar para uma vinícola que ou a explorar o setor do enoturismo”

Alexandre Damasceno, técnico agrícola e um dos sócios da Vale do Gongo

A Vale do Gongo produz 60 toneladas de uvas por ano. A produção é destinada ao consumo da fruta in natura e para a elaboração de 15 mil litros de vinhos por ano. Com o sucesso da produção, Damasceno decidiu aliar dois interesses muito comuns e já estabelecidos em outros cantos do mundo, o enoturismo. Comum no Sul do Brasil e países como Uruguai, Argentina, Portugal e França, essa visita ganhou contornos sertanejos em Minas Gerais. Na cidade de Grão Mogol, que tem vasto patrimônio arquitetônico, histórico e natural, o produtor resolveu abrir a sua residência, um casarão do século 17, para receber os visitantes para tomar café da manhã com quitandas mineiras assadas no forno a lenha e degustar vinhos.

“Era uma fazenda para produção de fruta e nós começamos a moldar para uma vinícola que ou a explorar o setor do enoturismo. Começamos a receber os convidados para conhecer os parreirais, aliando à história de Grão Mogol, que é uma cidade do período colonial”, afirma Damasceno.

Trabalho na Vale do Gongo tem conseguido diversificar espécies para produzir espumantes, brancos e tintos, entre outros
Trabalho na Vale do Gongo tem conseguido diversificar espécies para produzir espumantes, brancos e tintos, entre outros Diego Vargas/Seapa MG/Divulgação

Inspiração

O sucesso da Vale do Gongo vem encorajando outras pessoas da região a entrar no ramo, como a vinícola Loschi, istrada por Hilda Loschi e seu filho, Felipe Loschi, no município de Claro dos Poções, próximo a Montes Claros. “O primeiro lote comercial nosso começou a ser feito ano ado e foi finalizado agora, neste mês, e a gente vai colocar o produto no mercado”, comemora Felipe, que espera envasar seis mil litros, o correspondente a cerca de oito mil garrafas.

O professor da Associação Brasileira de Sommeliers de Minas Gerais (ABS-MG) Horácio Barros, especialista em vinhos mineiros, celebra o uso da técnica de dupla poda em produções mineiras e do sudeste do Brasil. “Em Minas, você tem vinho de mesa e vinho de inverno, poucos com vinho de verão. A maioria que tem vinho de verão está começando a mudar para vinho de inverno”, afirma o professor, autor do e-book “Minha viagem pela dupla poda”, no qual traz avaliações sobre vinhos e roteiros de enoturismo em seus quase 30 anos dedicados ao produto, sendo oito deles aos vinhos de inverno. Barros ressalta que o Brasil é um grande mercado para os vinhos, mas que a produção nacional ainda é muito reduzida.

“A produção brasileira de vinhos finos é muito pequena quando você compara com uma França, uma Itália. No Brasil são produzidos cerca de 30 milhões de litros, já a França produz quase 5 bilhões de litros por ano. O Brasil é um grande mercado consumidor de vinhos, nós importamos muito. São cerca de 150 milhões de litros, ou seja, tem um mercado gigantesco para os vinhos nacionais”, afirma.

Novidade no mercado

O professor diz que com a recente fama e ainda pequena produção dos vinhos de inverno, a tendência é que eles tenham um preço relativamente maior que os de mesma faixa, oriundos do Sul do país, mas que, em comparação com os sul-americanos, os preços são muito similares. “O vinho de inverno atua num nicho de mercado diferente em termos de faixa de preço dos vinhos da colheita tradicional, lá do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. São vinhos de R$ 200, R$ 300, R$ 500, mas quando você vai no Uruguai e compra um vinho extraordinário é a mesma faixa de preço”, comenta.

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