
Avós e avôs são sinônimos de aconchego, de abraço, de colo. Privilegiados são aqueles que am pela vida tendo a convivência destes seres que olham os netos com ternura sem medida e são responsáveis por deixar um legado que os acompanharão como sementes por toda a vida. De tempos tem tempos, os cientistas publicam estudos que revelam todo o bem que essa relação proporciona seja no funcionamento do cérebro, dos neurônicos, do coração, enfim, de toda máquina humana. Mas quem vive o poder deste contato não precisa de confirmação científica, apenas sente.
Além de distribuir amor, os avós são os guardiões da história da família, das tradições, costumes e particularidades de cada cultura e região apreendidas e readas para cada geração. Pode-se dizer que eles são raízes para as crianças e contribuem para o desenvolvimento dos pequenos a partir da construção das memórias familiares afetivas. Quem já não experimentou ao lado do vovô e da vovó a contação de histórias? A leitura, o colo, as brincadeiras, a comida preferida... Ensinamentos que, de forma lúdica, contribuem com a formação de um adulto, no mínimo, melhor por se sentir amado, cuidado, protegido.
Fernando Antônio Ferreira Barbosa, de 67 anos, e sua mulher, Samira Spyer Rachid Barbosa, de 68, vivem em estado de alegria desde a chegada da primeira neta, Yasmin, de três anos e meio. Professor de língua portuguesa e bancário aposentado e tendo a música como hobby, Fernando revela que desde o casamento sempre sonhou em ser pai e avô. Tem duas filhas, Fernanda e Ana Paula, e vinha aguardando inquieto a chegada dos netos. “A chegada tão esperada foi atrasada, a ansiedade tomava conta, e quando a Fernanda me contou da gravidez, me emociono até hoje, foi só alegria, sensacional. E até fiz letra e música para minha neta Yasmin, coloquei todo sentimento dentro de mim para fora. Foi de coração.”
E durante a gravidez, Fernando curtiu cada momento e chegou a produzir quatro blusas, como uma contagem regressiva para a chegada da neta, com os dizeres: “vou ser vovô”, “Yasmin vem aí”, “Yasmin, meu novo amor” e “Yasmin chegou... só amor!” Ao conhecer a netinha, ele conta que se transformou: “Foi além do que imaginava e, não sei por que, ela gosta tanto de mim. Não há adjetivo que traduza meu amor por Yasmin, ela completou a minha vida”. E Fernando destaca que tem mais amor para a chegada de mais netos. Recado dado para as filhas.
Fernando conta que não tem essa de dizer que “avós estragam os netos”: “Até um ano, só dizia sim para Yasmin, com 2 anos, o percentual caiu para 90%, agora está em 80% e me dou o direito de ter 20% de nãos, quando realmente for necessário. Apesar de saber que quando crescer, o percentual vai aumentar. Criação, educação e caráter dei para as minhas filhas e vou ar para Yasmin, mas de maneira mais livre, sem estragar, mas dando alegria”.
MÚSICA DE PRESENTE h6q3m
Yasmin a as manhãs com os avós, até a hora dos pais a levarem para a escolinha, e Fernando se deleita, ainda que reconheça que a idade, às vezes, pesa em acompanhar a energia da pequena. “É uma antítese, quando está comigo aproveito cada instante e fico até cansado, mas bastou ir embora para bater saudade. Ela chega às 8h e temos nossa programação. Caminhamos pelas ruas do bairro, ela sai dando 'oi, tudo bem' para todo mundo, adora ver as pessoas no crossfit, espera a agem dos homens da limpeza, como a ensinei falar, o pessoal buzina, dá tchau para ela e é uma alegria só. Depois, tem a hora de pintar com os dedinhos, de ver a Pepa, do lanche até o almoço. É uma alegria e, sabe o que aprendo com a Yasmin? Sobre sua personalidade. Às vezes, está pintando e sugiro o vermelho, ela diz, ‘não vovô, quero o verde', se falo algo errado do desenho, ela me corrige. É firme, decidida. Ela adora shopping, como eu, e quando canta comigo, então... Na cantiga ‘fui no tororó’, ela canta 'tenho o vovô para ser meu par' e fala que ‘o vovô é o amor de Yasmin’.”

Assim, vovô Fernando, derretido, procura tornar a vivência com a neta um mundo lúdico e saiba que, desde que Yasmin fez um ano, ele se veste de Papai Noel e faz da relação ainda mais mágica. A vovó Samira, tímida e reservada, fugiu da foto, mas também curte todo esse amor, mas o vovô tira onda, acha que é o “preferido” e revela: “Ahh, existe sim um ciúme, mas velado”, brinca.
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Forte vínculo intergeracional
A boa notícia para os avós de agora é que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 o tempo médio de vida ou para 76,6. Isso mostra que a expectativa geral de vida vem crescendo, o que é um ganho para as crianças, que terão mais tempo ao lado dos avós na fase de desenvolvimento. Além disso, a tecnologia tem facilitado o contato entre netos e avós que não moram perto, reduzindo a saudade e trazendo novas formas de manter as famílias juntas, ainda que por meio das telas.
No último dia 16 de novembro, foi publicado pela Royal Society B um estudo, o primeiro a fornecer uma visão neural do precioso vínculo intergeracional entre as avós e os netos. Usando imagens de ressonância magnética funcional, os pesquisadores da Emory University, da Geórgia (EUA), escanearam os cérebros de 50 avós expostas a imagens de seus netos, que tinham entre 3 e 12 anos de idade. Eles também viram fotos de crianças desconhecidas, de um pai adulto do mesmo sexo que seus netos e de um adulto desconhecido.
O resultado, conforme James Rilling, antropólogo e neurocientista que liderou o estudo, foi que as áreas do cérebro envolvidas na empatia emocional foram capturadas, assim como as relacionadas na simulação e na preparação de movimentos motores. Também foi constatado que, quando viram as fotos dos netos, os avós tiveram os mesmos sentimentos que eles. Se expressavam a alegria, sentiam alegria; se era sofrimento, sofriam. Importante destacar que as mesmas regiões motoras do cérebro também são ativadas nos cérebros das mães. Daí a conclusão que todos já sabiam, que os avós são pais, mas sem o rigor da responsabilidade de criar, comprometidos apenas a dar, compartilhar amor.