Agnaldo Lopes
Presidente da Federação Brasileira das Associações
de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)
A oscilação de humor ou a vontade de co- mer doces são comuns no período menstrual, mas, para 10% das brasileiras em idade reprodutiva (13 a 45 anos), a menstruação ocorre com dores intensas decorrentes da endometriose. A maioria delas desconhece que tem a doença, pois os sintomas iniciais são confundidos com cólicas, atrasando o diagnóstico, o tratamento e aumentando as chances de infertilidade. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) alerta sobre a necessidade de um diagnóstico precoce para melhorar a qualidade de vida. O mês de março é mundialmente dedicado à conscientização da doença, considerada um problema de saúde pública por interferir drasticamente na vida social e emocional feminina.
A endometriose é o tecido do interior do útero (endométrio) que descama na menstruação, fora da cavidade uterina, ou seja, em áreas como trompas, intestino, ovários e bexiga. O tecido acompanha o ciclo hormonal/menstrual da mu- lher e, mesmo estando fora da cavidade uterina, provoca sangramento, causando inflamação e dor. Além das cólicas durante a menstruação, a mulher pode sofrer com aumento do fluxo menstrual, dores ao urinar e evacuar, e até durante a relação sexual.
A doença pode começar na adolescência, quando o diagnóstico é mais difícil, pois muitas jovens não se queixam das dores, não vão ao ginecologista nem relatam os sintomas às mães. A última pesquisa da Febrasgo apontou que 56 milhões de brasileiras não procuram a especia- lidade médica para uma consulta de rotina, comprometendo o diagnóstico em, aproximadamente, 10 anos.
Cerca de 30% das mulheres com endometriose sofrem com problemas para engravidar. O tecido do endométrio se aloja em diferentes partes do aparelho reprodutivo, alterando a anatomia do órgão e, conforme o processo inflamatório se agrava, provoca infertilidade, que, dependendo do caso, pode ser irreversível.
A doença também afeta a vida profissional. Uma pesquisa com 3 mil mulheres, em parceria com o Grupo de Apoio às Portadoras de Endometriose e Infertilidade (Gapendi), revelou que 50% das participantes se ausentam do trabalho, até três vezes por mês, por causa das dores. Não é incomum ver mulheres com endometriose deixando de fazer suas atividades diárias e/ou sofrendo com alto nível de estresse e ansiedade.
O diagnóstico é baseado em sintomas clínicos, com o auxílio de exames de imagem em centros especializados, como a ultrassonografia transvaginal com preparo e a ressonância magnética. O tratamento medicamentoso depende dos sintomas e do grau da endometriose. Quando a escolha terapêutica não é suficiente, a alternativa é a cirurgia laparoscópica ou robótica, permitindo ver a extensão da doença para retirar as lesões. Em seguida, faz-se um tratamento de manutenção com hormônios.
Se a endometriose é invisível aos olhos, as suas consequências são muito visíveis, por isso o diagnóstico precoce é tão importante. A mu- lher deve ficar alerta aos sinais e procurar um profissional com grande experiência na doença para controlar o problema e ter mais qualidade de vida.