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Estado de Minas GUIMARÃES ROSA

Luiz Carlos de Assis Rocha lança roteiro para ajudar travessia das veredas 5cg6m

'Para Ler Grande Sertão: Veredas' desvenda a linguagem utilizada por Guimarães Rosa 2s2y4e


05/03/2021 04:00 - atualizado 08/03/2021 09:44

(foto: Clarice Poesia)
(foto: Clarice Poesia)
Está entre as obras mais reverenciadas da literatura brasileira. Integra a lista dos melhores do mundo. Mas ainda mais espantoso do que a genialidade da escrita e a universalidade das dores existenciais que transbordam de Riobaldo, jagunço do grande sertão dos “gerais”, é o fato de serem poucos aqueles que se atreveram a ler, do início ao fim, “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa. A constatação é de Luiz Carlos de Assis Rocha, professor de linguística da UFMG, doutor na linguagem rosiana, fundador, ao lado da esposa, Maria Esther, da Sociedade dos Amigos de Guimarães Rosa (Sagro).

A genial obra de Guimarães Rosa – que faz da escrita a profissão de fé, atira-se sobre o “ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido”, em cada palavra identificando “canto e plumagem” – é mesmo difícil de ser lida, assimilada, compreendida. Nunca por inteiro, mas em partes, revela-se nas releituras. Afinal, ao estilo do autor, que em Riobaldo desafia o caráter ambíguo da existência – esse estado entre o nascimento e a morte – em permanente “por fazer” sem nunca “estar pronto”, em cujo percurso é que se constrói algum sentido: “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. 

Para atravessar a floresta de malabarismos linguísticos de Guimarães Rosa – e já que o que a vida “quer da gente é coragem” –, Luiz Carlos de Assis Rocha escreveu “Para ler Grande sertão: veredas” (Páginas Editora). É um bem- elaborado roteiro, construído após décadas de estudo minucioso de palavras e expressões da obra, que ajudam a mergulhar nesse romance oralizado, verdadeiro estímulo contra a resistência à leitura difícil. 

Superada a hesitação, contudo, o sertão se impõe. Ele é a expressão da natureza ambígua das circunstâncias de vida do ser humano e de Riobaldo –  em constante tensão entre o ser e o não ser: a sua paixão por Diadorim –  homem ou mulher? – a presença de Deus ou será do diabo? Permanentemente à beira do abismo – já que “viver é perigoso” –, Riobaldo, o jagunço-sertanejo, busca certezas na incerteza da existência. Essa procura, afinal, integra o rol das inquietudes humanas. São tais as tensões entre o nascer e o morrer – características da travessia – permeada pela “nonada” – coisas insignificantes, ninharias – ou será a travessia fustigada pelo “nada”, enquanto a busca do possível; e o “não”, a delimitação desse possível">
Como o senhor percebeu que, apesar de muito cultuado e louvado, poucos leram “Grande sertão: veredas”?
Guimarães Rosa é autor muito irado, há peças teatrais, séries, artigos. Fala-se muito em Guimarães Rosa, mas na verdade, muitas pessoas não leram “Grande sertão: veredas” do princípio ao fim. Nos cursos que ministro sobre o autor, sempre fazia um levantamento. Muitas pessoas confessavam que nunca tinham conseguido ler. Então, temos dois grandes grupos: aqueles que começaram a ler e não terminaram, e aqueles que nunca leram.

Fiquei preocupado com isso e queria encontrar um meio para que esse grande escritor fosse lido. Talvez aconteça com ele o que ocorreu com Euclides da Cunha. Um livro muito louvado, mas pouco lido. Comecei a pensar o que eu poderia fazer para que as pessoas consigam atravessar essa floresta que é a linguagem de Guimarães Rosa. Cheguei à conclusão de que seria interessante escrever o livro para auxiliar as pessoas. 

Ao longo de todo o relato de Riobaldo, Diadorim se apresenta como um jagunço do bando dele, por quem nutre grande atração e amor. Somente depois da morte de Diadorim, Riobaldo percebe que se trata de uma mulher, portanto, mais uma ambiguidade na obra. Seria uma forma mais palatável utilizada por Guimarães Rosa para abordar a homossexualidade no início do século ado?
A relação entre Riobaldo e Diadorim é um dos pontos altos da obra. Guimarães Rosa a descreve com muita intensidade. Acho que Riobaldo, apesar de se envolver muito com Diadorim, não trata da questão da sexualidade explicitamente. Ele simplesmente gosta muito, se sente atraído por Diadorim, e ele mesmo não compreende essa atração. Várias vezes censura a si mesmo, estranha muito o fato de estar atraído por um homem.

Quando li o “Grande sertão: veredas”, não desconfiei de que se tratava de uma mulher. Mas sendo a obra literária, a interpretação pode variar de pessoa para pessoa. Particularmente, acho que o livro a longe de discutir a questão da homossexualidade. Não acho que foi a intenção do Guimarães. 

“Grande sertão: veredas” aborda fatos verídicos ou há agens ficcionais?
O ambiente em que ocorrem os acontecimentos, o sertão, a parte Norte de Minas, cita cidades, regiões, rios, lagoas, regiões que existem, podem ser comprovados. Mas a história, a trama é ficção. É pura ficção. Ele inventa a história do Riobaldo, o fato de ele fazer parte de um bando, o fato de ele querer vingar a morte de um chefe, o fato de encontrar com vários colegas e o que aconteceu com Diadorim. 

Euclides da Cunha, em “Os sertões”, tem um tempo histórico bem definido – entre 1896 e 1897 – período entre a queda da monarquia e a instalação do governo republicano no Brasil. E é ali, no sertão baiano, “insulado no país que não o conhece”, que se a a história da fundação do arraial de Canudos por Antônio Conselheiro e o genocídio da guerra de Canudos, aberta pela jovem República contra os sertanejos. Qual é o tempo histórico de “Grande sertão: veredas”" />

E usa outros recursos. Toma a frase normal da língua portuguesa e inverte a posição dos termos da oração; usa frases que nem são frases da língua portuguesa. Os autores costumam dizer que a grande invenção de Guimarães Rosa foi a sintaxe, a estruturação das frases, como a semântica, que estuda a significação das palavras. Ele coloca em seu livro várias palavras com sentidos aproximados e sentidos diferentes. E o leitor custa a entender a significação. Em várias agens a leitura se torna realmente árida. Por isso é aconselhável que quem queira ler tenha uma orientação, porque realmente é difícil. 

“Para Ler Grande Sertão: Veredas”
Luiz Carlos de Assis Rocha
Páginas Editora
383 páginas
R$ 44,90
R$ 139

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