O suicídio é ainda um tabu. Muitas pessoas não compreendem o ato e há preconceito, fato que faz com que os pacientes não procurem ajuda
Durante muito tempo, o suicídio foi encarado como um tabu. Embora continue sendo um assunto extremamente delicado, cresce a discussão acerca do tema, principalmente no mês de setembro, quando é destacada a importância da conscientização sobre o ato de tirar a própria vida.
"O suicidio é ainda um tabu, pois muitas pessoas não o compreendem e há muito preconceito que envolve a problemática, fato que faz com que os pacientes não procurem ajuda, pois muitos sentem vergonha ao falar sobre o assunto", acrescenta o especialista.
A prática é frequentemente censurada porque muitas pessoas a associam a um ato egoísta, o que gera desconforto. "Não discutir o suicídio não o fará desaparecer. Pelo contrário, é fundamental debater a questão para combater a desinformação, mas isso deve ser feito de maneira sensata, sem romantizar ou banalizar o problema", complementa o médico.
Sendo assim, o psiquiatra discute alguns sinais que podem ser indícios de que alguém pode estar inserido em um contexto suicida. "Cada caso é um caso e a generalização de ações é impossível, porém, algumas características se assemelham em múltiplas circunstâncias. Lembrando que a análise deve ser feita sempre por um especialista e que, em todos os cenários sérios, é preciso acompanhamento médico", comenta Lipman.
Atenção às palavras - não é só o corpo que fala
Devido à psicofobia e também à romantização de obstáculos problemáticos à saúde mental, é comum acontecerem brincadeiras que envolvem frases como "quero me matar", "nao o mais viver". Por causa dessa banalização, palavras como essas podem ar despercebidas pela sociedade e, em muitos casos, envolvem uma questão séria e são invalidadas. Portanto, como diferenciar ações verbais que se referem ao suicídio de uma "brincadeira", mesmo que de mau gosto?
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Nas palavras do especialista, "a maneira como o indivíduo fala, a entonação de suas palavras e o cenário atual em que a pessoa está inserida deve ser avaliado. De todo modo, quando alguém diz "quero morrer", seja como piada ou não, a frase refere-se sempre a um desconforto. A diferença é que depende de como a pessoa lida com a situação - pode estar elaborando bem, o que é visivelmente colocado, ou há a possibilidade de estar inável sustentar a vida."
O que antecede a situação atual da pessoa?
O psiquiatra defende a necessidade de atenção ao que precede a atual vivência de um possível indivíduo suicida. "Ao estudar sua história, é possível identificar raízes de problemas que podem vir a desencadear pensamentos suicidas ou até mesmo a ação. Por isso, mais uma vez falo sobre a importância do acompanhamento profissional. É necessária a compreensão de que uma reação suicida é um sintoma que, como qualquer outro, pode ser driblado a partir da melhora do quadro como um todo - o foco há de ser o problema, nunca o resultado. É uma consequência", esclarece Lipman.
Para que a situação possa ser enfrentada de maneira adequada, é necessária a atenção a partir do que causa o efeito suicida. Se, por exemplo, o paciente está deprimido e por isso encontra-se em um cenário de possível sucidio, normalmente, o quadro da depressão melhorando, melhora também a situação em relação ao suicídio.
Observe o cenários que envolvem o indivíduo em questão
Como dito anteriormente, não existe nenhuma ação especial e geral que sinalize comportamentos suicidas, a não ser que seja voltada para o ato - por exemplo, é sabido que, após uma tentativa de tirar a própria vida mal sucedida, a chance de que a situação ocorra novamente é alta.
Entretanto, pessoas enfrentando momentos difíceis e desconfortáveis estão fragilizadas. "Dificuldades existem na vida de todos os seres humanos, sem exceção, o que difere é como as pessoas a enfrentam e, portanto, suas capacidades de superação", cita o especialista. Assim, o cenário pode vir a ser um aspecto importante para a compreensão de possíveis tendências suicidas e, principalmente, como o indivíduo age perante as circunstâncias.
Alerte-se a mudanças comportamentais repentinas
"Mudanças bruscas de comportamento, um discurso entristecido constantemente desesperançoso, frases como 'queria desaparecer' ou 'gostaria de não existir mais' são indicativos que algo pode estar errado", explica o psiquiatra.
A alteração rápida de conduta é uma das principais evidências que envolve indivíduos suicidas. Os motivos para que alguém se enquadre no contexto podem ser muitos e diferem entre si, ao depender da realidade. "Existe um debate filosófico sobre se todo paciente no cenário de tirar a própria vida possui algum tipo de transtorno mental. Nem todos, mas a larga maioria. Psicopatologias como a depressão, transtornos bipolares, esquizofrenia, TOC e até mesmo a dependência química grave são situações que podem levar o paciente a cometer ou ter pensamentos suicidas", cita o médico.
A partir da discussão, as mudanças de comportamento podem ocorrer devido a transtornos, ou não. "Sendo assim, é importante classificar cada situação como singular, cada paciente é único e necessita de atenção de um cuidado individualizado", aponta o psiquiatra.
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