
Achado curioso em meio aos papéis guardados
Remexer gavetas nos reserva surpresas interessantes. Encontrei nota novinha de duzentos cruzeiros presa a um comunicado de 1966
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Remexer em papéis guardados tem uma vantagem: oferece surpresas bem engraçadas. Como esta comunicação destinada a Cícero Siqueira: “Prezado acionista: Pelo presente, anexamos o título representativo de ações da Vemag S/A – Veículos e Máquinas Agrícolas, referente à bonificação de 60% aprovada pela A.G.E de 5-10-64. Como V.Sa. poderá comprovar, além das ações, V.Sa. também faz jus ao valor de CR$ 200,00,referente fração verificada, pelo que estamos anexando o valor mencionado, solicitando a V.Sa. o especial obséquio de nos devolver o formulário anexo ao título, devidamente assinado, para que possamos acertar nossos registros. Com os nossos agradecimentos e certos da cooperação de V.Sa., subscrevemo-nos, mui atenciosamente, Vemag S.A.”
Presa na mensagem está a nota novinha de duzentos cruzeiros. A carta, pelo registro, foi enviada em 17 de fevereiro de 1966.
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Fico imaginando quanto valia esta nota, até hoje afixada na comunicação. O que será que dava para comprar com ela na época? Atualmente, com este valor, mantido como no original, é possível comprar 1kg de manteiga, três pacotes de arroz ou duas caixas de lava-roupa Omo e pouco mais. Um queijo mineiro pequeno está acima de R$ 50, e por aí vai.
Naquela época, também poderiam ser adquiridos poucos produtos, porque o dono das ações nem se preocupou em gastar o dinheiro.
Outro lance que mostra os tempos modernos, nos quais R$ 200 não valem nada, é que nenhuma empresa se ocupa em mandar correspondência para os sócios com tal valor de lucro.
Certa vez, comprei ações de uma empresa, já nem me lembro qual, que me mandou correspondência informando o lucro de minhas ações. Era tão pequeno que resolvi ir ao banco retirar o dinheiro, só para ver o que aconteceria.
Porém, a complicação era tão grande que deixei pra lá, não cortei minha participação e nem sequer recebi correspondência informando quanto valiam minhas ações. Não devem valer nada, por isso a empresa já colocou a minha participação em algum arquivo morto.
Longe vai o tempo em que algumas empresas se comunicavam pelo jornal com os acionistas. Atualmente, o que elas querem é correr deles, acredito.
Não achei ainda o caminho de pessoas que vivem sem nenhum luxo, tendo como verba mensal a renda de ações compradas nos tempos das vacas gordas, que agora aproveitam para segurar as vacas magras.
Uma das frustrações de minha vida é nunca ter recebido herança, participar de partilha de bens ou de outros lances que acontecem com várias pessoas.
Presto atenção em casais que vivem numa boa, marido trabalhando e mulher em casa. Para falar a verdade, ficar em casa é a maior canseira, quem trabalhou a vida inteira não aguenta. Comecei a procurar meus ganhos aos 16 anos. Aproveitando meus dotes de bordadeira, criava enxovais para recém-nascidos, camisinhas de cambraia com bordados delicados, roupas para batismo com barras de richelieu e por aí vai.
Quando caí, parei de ir ao jornal. Trabalho de casa, o resto do dia fico sem nada para fazer. Não acho isso muito bom. Quebro a monotonia com leituras, filmes e documentários.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.