No Ceresp Gameleira, a quinta morte do ano em presídios
Autores do crime assumiram o crime e se entregaram a policiais penais
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Siga noA quinta morte de um presidiário dentro do sistema penal em 2025 foi registrada na madrugada desta terça-feira (15/4). O corpo do detento Greigson Tailler de Souza, de 27 anos de idade, foi encontrado em uma cela do Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) da Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte. Os dois autores do crime já foram identificados. Eles se entregaram.
Segundo informações do registro policial, guardas penais ouviram gritos vindos da galeria D. Ao chegarem à cela 15, encontraram o corpo do detento caído, com sinais de violência.
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Tão logo os policiais penais chegaram à cela, os dois autores assumiram o assassinato. A motivação para o crime não foi explicada por eles, que serão ouvidos em delegacia.
A perícia da Polícia Civil foi ao Ceresp para colher as evidências do homicídio. O corpo foi removido para o Instituto Médico Legal (IML), onde será feita a autópsia.
Mais mortes
A primeira morte foi registrada no Presídio José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, em 14 de janeiro. Durante a madrugada, policiais penais foram chamados por outros presos denunciando que dois homens estariam feridos e em situação crítica dentro da cela.
Ao chegarem à cela, haviam dois homens caído no chão. Amauri Viana Silva, de 34 anos, estava morto. O outro detento foi levado para o Hospital de Pronto Socorro João XXIII (HPS).
No final de janeiro, no Presídio Feminino Presidente Olegário, no Alto Paranaíba, Aline Aparecida Cristino, de 35 anos, que havia sido internada em 16 daquele mês, foi encontrada morta. Segundo a perícia, ela tinha sido morta 24 horas antes.
Agentes do presídio contaram que foram chamados por outras mulheres que dividiam a mesma cela. Elas relataram que Aline não acordava.
Também em janeiro, numa cela do Complexo Penal Público Privado, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a terceira em uma semana. Pedro Henrique dos Santos, de 27 anos, morreu no sábado (18/1).
Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), não havia sinais de que tenha sido cometido um homicídio, mas, sim, que a morte foi resultado de um problema médico.
Segundo relatos de guardas penais, o detento convivia com um quadro de febre, fraqueza, vômito e dor abdominal durante cinco dias. Ele chegou a ser atendido pela enfermagem do presídio, que começou a tratá-lo com dipirona e soro fisiológico, porém, o homem não teve qualquer melhora.
Pedro Henrique foi levado para o hospital São Judas Tadeu, também em Ribeirão das Neves, onde morreu.
Há cinco dias, um detento, Felipe Antônio de Souza Reis, de 31 anos, foi morto a facadas no Presídio de Governador Valadares. Segundo a direção do presídio, o autor é um colega de cela, de 26 anos, que confessou o crime.
O crime ocorreu no Bloco C da unidade prisional. Como nas mortes anteriores, os agentes penais ouviram gritos, vindos de uma das celas e encontraram Felippe caído no chão. Ele tinha ferimentos causados por um objeto perfurante e marcas de sangue. O SAMU foi acionado e constatou que ele já estava morto.
O autor do crime confessou a morte, alegando que tinha sido agredido pelo detento, que fizera insinuações sexuais para um companheiro de cela. A versão foi confirmada detento assediado.
O que diz a Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade
Miriam Estefânia dos Santos é presidente da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade e comenta quais os principais motivos de mortes de presidiários: “As mortes das pessoas em privação de liberdade no sistema prisional de Minas Gerais têm sido motivo de grande preocupação para nós. Casos recentes revelam falhas estruturais como falta de assistência médica, falta de medicamentos controlados, de uso contínuo, que não são fornecidos. Quando são, não é de maneira correta”, diz.
Além dessas causas, ela ressalta a má qualidade da alimentação, muitas vezes “imprópria para o consumo”. A falta de socorro é outra queixa da presidente. Segundo ela, muitos presos morrem porque não tiveram seus pedidos de ajuda atendidos. “ A gente fala balança a cadeia, que é onde que eles batem nas grades pedindo ajuda, gritando por socorro e na maioria das vezes, eles não são socorridos a tempo”, afirma.
Miriam diz que pretende se reunir em breve com familiares. Ela conta que, no início do ano, foram muitas as denúncias feitas na plataforma desencarcera.com, que funciona em parceria com o projeto de extensão da UFMG LAB-TRAB e a associação que lidera. A reunião vai ter como principal pauta o que mais ela e os integrantes podem fazer para melhor a situação dos presidiários.
“Nós, parentes de pessoas que estão cumprindo pena, sobreviventes do cárcere, defensores de direitos humanos ficamos muito preocupados. Nós estamos nessa luta, sempre tá denunciando”, finaliza.
Nota da Sejusp
“Informamos que todas as providências istrativas relativas ao óbito do detento Greigson Tailler de Souza, 27 anos, ocorrida na madrugada desta terça-feira (15/4), foram tomadas pela direção do Ceresp Gameleira. Policiais penais da unidade foram acionados por colegas de cela de Greigson e, ao chegarem ao local, encontram-no caído ao chão, com baixos sinais vitais, e tentaram reanimá-lo. O Samu foi imediatamente acionado, entretanto, apesar do pronto atendimento, o óbito foi constatado. A direção da unidade prisional apura istrativamente as circunstâncias do ocorrido. As investigações criminais são responsabilidade da Polícia Civil”.
Greigson estava custodiado no Ceresp Gameleira desde 27/3/2025. Ele tinha agens pelo sistema prisional desde 13/11/2024.
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