REGIÃO CENTRO-SUL

BH: abaixo-assinado pede a retirada de abrigo de pessoas em situação de rua

Sob autoria de moradores do Bairro Santo Agostinho, a petição associa a criação do espaço de acolhimento com o aumento da insegurança local

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Um abaixo-assinado para a "realocação" do Albergue Tia Branca II, espaço de acolhimento para pessoas em situação de rua, foi criado na última sexta-feira (16/5). A autoria é de moradores do Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul de BH, que alegam que a abertura do espaço acarretou no aumento da insegurança na região. A alegação não é sustentada por dados oficiais de segurança pública. Para Alexandre Barbosa Lima, que integra o conselho diretor do projeto Novo Olhar Rua, a medida seria um "processo higienista".

De acordo com o texto apresentado no abaixo-assinado, os moradores argumentam que têm notado aumento em “abordagens agressivas por usuários de drogas, presença constante de indivíduos em situação de vulnerabilidade nas portas de escolas, condomínios e estabelecimentos comerciais.” O cenário descrito teria relação com o espaço de acolhimento na Rua dos Timbiras, existente desde 2021 e que atende prioritariamente homens em situação de rua que estejam em processo de envelhecimento, apresentem alguma deficiência ou tenham agravantes de saúde.

A petição, com 183 s até o fim da tarde desta segunda-feira (19/5), solicita a imediata realocação do abrigo “para um local mais apropriado, onde os acolhidos possam ser assistidos com dignidade, sem colocar em risco a integridade de moradores e frequentadores da região”. O documento não especifica o que seria "um local mais apropriado".

Em contrapartida, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que para o local ser escolhido como albergue foram levados em consideração os espaços disponíveis e as diretrizes do Sistema Único de Assistência Social, como a garantia de ibilidade e um atendimento digno. Além disso, o endereço na Rua dos Timbiras está localizado na região de maior presença de pessoas em situação de rua, que é a Centro-Sul, e próximo a outros serviços utilizados por esse público, como o Restaurante Popular e o Centro Pop.

No abaixo-assinado, os responsáveis pela iniciativa afirmam que não são contra o acolhimento de pessoas em situação de rua e políticas públicas sociais, mas que elas deveriam “ser implementadas em locais adequados, com infraestrutura apropriada e que não comprometam a segurança e qualidade de vida da vizinhança.”

Higienista

“A gente vê com preocupação e como um processo de higienização, na verdade, o que essas pessoas pretendem é afastar a pobreza deles”, afirma Alexandre Barbosa Lima, da direção do Novo Olhar Rua, rede colaborativa de entidades, pessoas físicas e jurídicas, que articula ações coletivas e integradas para promover a cidadania, a defesa e o cuidado da população em situação de rua.

Ele, que também é psicanalista, conta que medidas como essa proposta no abaixo-assinado são comuns em diversas regiões de BH que têm um espaço de acolhimento às pessoas em situação de rua, não só albergues. Para Alexandre Barbosa Lima, tentativas como essa demonstram uma aversão à pobreza e às pessoas pretas, maioria entre a população em situação de rua.

O abaixo-assinado associa, sem provas, o aumento da insegurança na região com o espaço de acolhimento na Rua dos Timbiras
O abaixo-assinado associa, sem provas, o aumento da insegurança na região com o espaço de acolhimento na Rua dos Timbiras Leandro Couri/EM/D.A. Press.Brasil.MG.Belo Horizonte

Ele acredita que o abaixo-assinado não deve resultar na realocação do albergue, mas vê como preocupante a ação, visto que há representantes políticos que defendem medidas como essa.

Comunidade escolar

A reportagem do Estado de Minas foi ao entorno do Colégio Santo Agostinho para entender se a comunidade escolar nota o suposto aumento de insegurança, especialmente visto que na petição consta que moradores estariam com medo de circular naquela área.

Roger Fernando Bodevan Oliveira, personal trainer de 37 anos que busca o primo na escola, não acha que a presença de pessoas em situação de rua comprometa a sensação de segurança. Ele também vê o abrigo com bons olhos. “Na maioria das vezes, não depende só deles, é bom que tenha uma assistência, um cuidado, porque a gente não sabe o que realmente acontece para essas pessoas estarem nessa situação de rua”, disse.

Roger Fernando Bodevan Oliveira, personal trainer de 37 anos que busca o primo na escola na área, vê o abrigo com bons olhos
Roger Fernando Bodevan Oliveira, personal trainer de 37 anos que busca o primo na escola na área, vê o abrigo com bons olhos Leandro Couri/EM/D.A. Press.Brasil.MG.Belo Horizonte

Isabela Catarina Soares Bartolomeu, professora de anos 39 e mãe de um aluno do colégio, também não se sente insegura, especialmente pela presença da segurança privada da escola nos quarteirões no entorno. Ela acha o abrigo uma excelente medida e conta que a preocupação que sente está ligada à insegurança urbana no geral.

“Tenho percebido que tem aumentado os moradores de rua, inclusive dormindo na calçada da escola sempre”, relatou o pai de uma estudante, que preferiu não se identificar. Com esse crescimento, ele afirma que é necessário redobrar o cuidado, porque há pessoas que realmente estão em situação de vulnerabilidade, mas pode haver gente “disfarçada”. Apesar disso, conta que nunca presenciou uma situação de violência ou insegurança.

Sobre a presença da população em situação de rua no Bairro Santo Agostinho, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que “equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social intensificarão a atuação no local, visando à identificação dessas pessoas e à oferta de atendimentos necessários.”

Espaço de acolhimento

O Albergue Tia Branca II é um serviço público municipal, executado em parceria com uma organização da sociedade civil desde 2021, de acordo com a Prefeitura de BH. O albergue oferece diariamente 120 vagas na modalidade casa de agem, com uma ocupação média de 90 vagas.

O imóvel conta com espaço de recepção interna e cadeiras, televisão, tomadas, o à água e banheiro. A equipe do espaço é composta por assistente social, psicólogo, monitores e profissionais de serviços gerais.

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“Não se trata de um serviço de demanda espontânea e aberto a todos; para ser acolhida, a pessoa deve ser encaminhada por equipes especializadas, o que contribui para evitar filas e garantir um o mais organizado”, informou o Executivo municipal.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos

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