Cena marcante do filme, com Leonardo di Caprio e Kate Winslet
Foi assim no ano ado com o primeiro "Avatar" e, a partir desta quinta (9), o mesmo acontece com "Titanic", vencedor de 11 estatuetas do Oscar que volta às salas em versão remasterizada em 3D. O navio de Cameron já havia cruzado os cinemas no formato antes, mas retorna especialmente para as comemorações de 25 anos da história de amor em alto-mar.
Não é, no entanto, por causa das dimensões do desastre ocorrido em 1912 que a obra ganhou atemporalidade. Pouco importa o naufrágio, na visão do cineasta. É o romance em seu centro que tem levado diferentes gerações ao cinema cada vez que "Titanic" zarpa rumo às salas.
"Tragédias muito maiores aconteceram desde então, mas a do Titanic tem uma qualidade novelística que perdura. E no cerne está um coração partido. Nós plantamos uma história dentro do que já era uma história incrível, e uma coisa elevou a outra, o desastre e o romance", afirma o cineasta em conversa com jornalistas.
Apesar dos 25 anos que separam a estreia de agora, Cameron aposta que, além do romance, também devem chamar público aos cinemas os temas que, lá atrás, pouco importaram para o sucesso, mas que hoje estão em alta diante de uma geração feminista e da onda de ataque aos super-ricos vista nas telas.
Para ilustrar, o cineasta cita uma das cenas mais icônicas do longa, aquela em que Rose, a mocinha vivida por Kate Winslet, precisa se apertar dentro de um espartilho. Ela detesta os vestidos exagerados que desfilam pela primeira classe do navio e chega a contemplar o suicídio como forma de fugir das amarras sociais e da vida pré-determinada à sua frente.
E então Jack, personagem de Leonardo DiCaprio, entra em cena. "Titanic" pode soar ultraado numa era em que princesas da Disney já não terminam com príncipes, mas a possibilidade de escolha -de se apaixonar por alguém livre e que não pertence àquela elite esnobe- é revolucionária no contexto.
Até porque basta olhar os números da tragédia real, mencionados por Cameron para mostrar a urgência de se debater temas como desigualdade social e a crença cega numa noção equivocada de progresso. Foram os ageiros da terceira classe os que mais morreram no naufrágio de um navio vendido como praticamente incapaz de afundar -76% daquele setor pereceu, contra 58% da segunda e 39% da primeira classe.
"Agora nós nos deparamos com outra tragédia, a crise do clima, e também não podemos dar meia-volta neste navio. Adivinhe quem vai ser mais atingido pelas consequências disso? Os países mais pobres, enquanto os ricos definem a rota em direção ao iceberg. 'Titanic' talvez esteja mais atual do que jamais foi", afirma Cameron.
Apesar do discurso politizado, ele cede e reforça que, no fim, dá para esquecer da "intelectualização" e só aproveitar a história de amor. Falamos, afinal, do filme de um cineasta que sabe criar espetáculos grandiosos como poucos.
Para "Titanic", Cameron e sua equipe recriaram o colosso flutuante em estúdio, e ele alerta para um erro ao qual muitos incorrem ao falar da empreitada -o navio do filme era em escala real, não reduzida. Algumas seções da embarcação foram descartadas na versão de mentira, mas o que foi replicado ganhou tamanho semelhante ao original.
Não bastava que a réplica tivesse cerca de 230 metros de comprimento e estivesse num tanque de água enorme, que sozinho custou US$ 40 milhões. Cameron ainda orientou sua equipe a contratar figurantes que não tivessem mais do que 1,7 m de altura, para realçar a grandiosidade da embarcação aos olhos do espectador.
Em meio às comemorações de um quarto de século de "Titanic", é curioso que o último longa do cineasta seja "Avatar: O Caminho da Água", que também mergulha no oceano. Mas não é coincidência, diz Cameron. Mergulhador profissional, ele tem no mar uma de suas grandes paixões.
"Eu tirei meu certificado de mergulho aos 15 anos e só virei cineasta aos 26. Então eu cheguei a 'Titanic' com duas paixões já muito estabelecidas, que ainda hoje me acompanham", diz. "Os oceanos são uma parte indispensável do meu ser criativo e das minhas motivações.
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