Grupo Primeiro Ato estreia em BH o espetáculo "Como água"
Montagem que ficará em cartaz desta quinta-feira (15/5) até sábado propõe uma reflexão sobre a agem do tempo e os fluxos da vida
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Siga noDesde a pandemia, o Grupo de Dança Primeiro Ato vinha se dedicando apenas a trabalhos de rua e videoperformances. Quando decidiu voltar aos palcos, sentia-se à deriva. “A gente não sabia muito o que dizer. A realidade era tão contundente que pensamos: ‘Vamos falar o quê sobre esse momento?’”, conta a diretora do grupo, Suely Machado.
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A resposta veio na forma da água, que, no espetáculo “Como água”, que estreia nesta quinta-feira (15/5), no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, funciona como metáfora do viver. “A água tem capacidade de encontrar saídas diante dos obstáculos. Muitas vezes, ela vem com fúria e revolta. Em outras, é mansa, clara, límpida. A mesma água que lava pode provocar situações de calamidade”, comenta Suely.
Com trilha sonora assinada por Federico Puppi – também responsável pela música de “(Um) Ensaio sobre a cegueira”, montagem do Grupo Galpão –, o novo espetáculo do Primeiro Ato aposta em uma dramaturgia de força poética.
Pela movimentação da água – no caso, dos corpos dos bailarinos –, o grupo ressalta a imprevisibilidade da vida. No palco, os bailarinos Alex Dias, Ana Carolina Vinhal, Marcela Rosa, Marina de Santana, Pedro Henrique Demétrio e Tayná Barboza incorporam os diferentes estados da água, traçando paralelos com a trajetória do grupo nos últimos cinco anos.
Movimentação
Primeiro, o isolamento imposto pela pandemia, em que os corpos mimetizam a forma da água represada – borbulhante, agitada. Em seguida, o furor da evasão, que em certos momentos explode como gêiseres; em outros, flui como um novo riacho, abrindo seu próprio curso.
“Estava na hora de nos movimentarmos. E essa movimentação precisava vir contrastante, fluida, mas também carregada de características distintas, como são as nossas vidas”, afirma Suely.
“A água é imprevisível. Você nunca sabe onde ela vai estourar, tampouco como ela virá, seja no mar, seja no rio. Às vezes, você olha um rio e acha que é manso, mas as correntes por baixo podem te arrastar. Essa imprevisibilidade da água é a mesma da vida”, diz.
Se a água pode ser forte, violenta, incontrolável, ela também carrega sentidos de purificação, renovação e redenção. Ao mesmo tempo em que evoca criação, fertilidade e nascimento, simboliza transição e transformação. É com esse leque simbólico que “Como água” propõe uma crítica poética e construtiva da realidade.
Sob essa perspectiva, a performance questiona também o papel da humanidade diante das mudanças que provoca e de seus resultados devastadores. Destaca, ainda, a força da mulher, que muitas vezes se apresenta com energia suficiente para derrubar conceitos, preconceitos e outras barreiras.
Como é de praxe no trabalho do Primeiro Ato, a coreografia nasceu de processo coletivo. Cada bailarino contribuiu com experiências próprias, das quais emergiram os movimentos selecionados por Marcela Rosa, que também assina a concepção cenográfica.
“Procuramos entender de onde vem esse impulso, essa tensão que leva à ação. E, quando ela ocorre, traz consigo elementos próprios, como a fluidez e o surto”, observa Suely, referindo-se tanto à água represada quanto aos movimentos dos intérpretes.
Só após a definição da movimentação é que Federico Puppi entrou em cena para compor a trilha sonora. Esta é a primeira parceria entre ele e Suely, amigos há aproximadamente 10 anos.
“Eu só estava esperando o momento certo para colocar o violoncelo na trilha de um espetáculo nosso. ‘Como água’ foi a oportunidade ideal, porque a sonoridade melodiosa e fluida do violoncelo casa perfeitamente com a proposta”, afirma ela.
O figurino, assinado por Pablo Ramon, também dialoga com a proposta da obra. Em tons sóbrios, os trajes conferem leveza, transparência e fluidez à cena.
Todo esse arranjo – sonoro, visual e corporal – foi pensado para que o espetáculo estabeleça conexões afetivas com o público. Mais do que exibir a habilidade técnica dos bailarinos, a intenção é colocar a dança a serviço de uma dramaturgia que encontre eco nas emoções de quem assiste.
“Não queremos fazer algo que seja só do grupo, mas algo que reverbere nas pessoas. Algo com que o público possa se identificar, ativar uma memória, sentir como próprio”, comenta Suely.
Já se encaminhando para o fim, “Como água” deixa a pergunta aberta ao público: “O que vem agora em nossas vidas?”
“Quem dera soubéssemos, né?”, devolve Suely. “Acho que a gente traz, na movimentação, algo que representa uma transformação – talvez necessária – para a evolução da humanidade. Mas quem sabe, né?”
“COMO ÁGUA”
Espetáculo do Grupo de Dança Primeiro Ato. Desta quinta-feira (15/5) a sábado, sempre às 20h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos à venda por R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia), na bilheteria e pelo site do Sympla. Informações: (31) 3516-1000.