Conheça os livros mais importantes de Vargas Llosa
De ‘Conversa no Catedral’ a ‘Cinco esquinas’, um resumo dos romances que se destacam na obra do escritor peruano, Nobel de Literatura, que morreu aos 89 anos
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Siga no“CONVERSA NO CATEDRAL” (1969)
É considerado o melhor e mais importante livro de Vargas Llosa e um dos principais da literatura latino-americana, o chamado “romance total”, pelos diversos níveis de realidade e complexidade, rigorosa construção formal, narrativa não linear e com mudanças vertiginosas de pontos de vista. É obra para reflexãor. No Peru, nos anos 1960, dois amigos, Zavalita, jornalista de classe média alta, e Ambrosio, ex-motorista do pai de Zavalita, se encontram no bar Catedral e falam de suas vidas e do momento político do país, sob a ditadura do general Manuel Odría, violenta e corrupta. Entre os temas, estão poder e política, prostituição e morte.
“A FESTA DO BODE” (2000)
Um dos melhores livros de Vargas Llosa, o romance histórico recria o regime sanguinário do ditador Rafael Trujillo, que mandou na República Dominicana por 31 anos, entre 1930 e 1961. São três histórias mescladas, a do próprio ditador, conhecido como “Bode”, a dos rebeldes que tramam uma revolução e a principal, a de Urânia Cabral, que volta ao país para encontrar o pai doente anos depois de ter sido violentada por Trujillo. Livro emblemático que pode ser visto como representação da violência contra mulheres e do horror das ditaduras na América Latina, com doses de deboche de Llosa, um mestre em contar histórias.
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“A GUERRA DO FIM DO MUNDO” (1981)
Impressionado com a narrativa documental descrita por Euclides da Cunha em “Os Sertões”, Vargas Llosa foi a Canudos, na Bahia, e recriou a saga do líder religioso Antonio Conselheiro e de sua comunidade que terminou em matança no início do período republicano, no fim do século 19. Apesar dos quatro anos de pesquisa do escritor, a obra é controversa por causa da fabulação e de personagens caricatos e permanece entre aplausos e críticas de leitores e críticos desde que foi lançada.
“PANTALEÃO E AS VISITADORAS” (1974)
“Pantaleão e as visitadoras” é um divertido romance inspirado numa história real. O capitão do Exército peruano Pantaleão Pantoja é surpreendido com a missão de levar prostitutas para acabar com a abstinência de militares na floresta amazônica. Faz parte da empreitada manter sob sigilo o bordel itinerante em barcos pelos rios. Casado e correto, Pantaleão tem que fazer a seleção das “visitadoras” e se depara com uma estonteante mulher conhecida como Colombiana. Mais uma vez, Vargas Llosa usa seu talento para destilar ironia e humor nessa narrativa inusitada.
“O SONHO DO CELTA” (2010)
É o livro mais contundente de Llosa por causa do horror que retrata. História do irlandês Roger Casement (1864-1916), que foi cônsul britânico e observou as precárias condições de trabalho nas plantações de borracha no Congo Belga e em Putumayo, no Peru, no início do século 20. Ele denunciou a crueldade, como escravização, cometida por uma empresa inglesa contra povos nativos e foi detido em prisão de segurança máxima em Londres, acusado de alta traição. O escritor ucraniano Joseph Conrad se inspirou nos relatórios feitos por Casement para escrever o seu livro mais importante, “Coração das trevas”, que baseou o filme “Apocalypse now”, de Francis Fo
“ELOGIO DA MADRASTA” (1988)
Romance erótico que, possivelmente, se fosse lançado hoje, seria jogado na “fogueira” das redes sociais. É um triângulo amoroso entre uma madrasta, Lucrécia, seu marido, Dom Rigoberto, e Fonchito, filho dele. Vargas Llosa faz contraponto entre paixão e inocência sobre a volúpia de Lucrécia, que aos 40 anos segue sedutora e jovial no casamento feliz. Mas o amor do menino pela madrasta a dos limites e complica os prazeres da vida conjugal. A obra leva ao extremo a linha tênue entre fantasia e sexo, o que incomoda muitos leitores pela ousadia.
“O HERÓI DISCRETO” (2013)
Romance diferenciado de Vargas Llosa por mesclar intrigas, crimes e curiosas reviravoltas. Felícito Yanaqué recebe carta anônima com ultimato para fazer pagamento em troca de segurança de sua empresa. Mas não dá o braço a torcer e enfrenta o desafio. Enquanto isso, Ismael Carrera é um viúvo idoso, dono de uma empresa de seguros, que se casa com uma mulher mais jovem, ex-empregada da família. Por isso, enfrenta a ira dos filhos gêmeos, que estão de olho em sua herança e querem destruí-lo. Llosa inclui na história personagens clássicos de outras obras suas, como don Rigoberto e Lucrécia, que entram na luta de Felícito e Ismael.
“CINCO ESQUINAS” (2016)
Um dos últimos e mais ousados romances de Vargas Llosa, então na faixa dos 80 anos de idade, que entrelaça cinco histórias no bairro de Cinco Esquinas, em Lima, capital do Peru, com destaque para Marisa e Chabela. Elas traem os seus maridos, dois empresários que são amigos de longa data e que não desconfiam de nada. Confinadas numa noite, durante toque recolher determinado pelo presidente Alberto Fujimori, as duas mulheres vivem experiência sexual diferente, que já se manifesta logo nas primeiras páginas do livro, em ritmo de thriller, misturando humor, erotismo, intrigas, crimes e política.
“O PARAÍSO NA OUTRA ESQUINA” (2003)
Romance histórico sobre duas figuras emblemáticas do século 19: a escritora socialista franco-peruana Flora Tristan e o seu neto, o pintor francês Paul Gauguin. Vargas Llosa intercala os capítulos com as trajetórias de cada um. Flora foi pioneira do feminismo na Europa ao bater na tecla de que os direitos das mulheres estava diretamente relacionado ao bem-estar da classe operária. Já o pintor pós-impressionista Gauguin abandonou a pintura clássica e a família na Europa e foi em busca de uma arte primitivista na Polinésia, no Pacífico Sul.
“A CIDADE E OS CACHORROS” (1963)
O primeiro romance de Vargas Llosa, com traços autobiográficos, mostra a realidade num colégio militar em Lima, no início dos anos 1950. Quando era adolescente, Llosa foi matriculado pelo pai, contra a sua vontade, em um colégio militar, e dali tirou as experiências para escrever “A cidade e os cachorros”, ainda antes dos 28 anos, trama repleta de autoritarismo e corrupção moral. Romance para iniciação na leitura de Vargas, que desde jovem autor já começava com experimentalismo, entrelaçando tempo e espaço. (Paulo Nogueira)rd Coppola, adaptado para a Guerra do Vietnã.